A Biblioteca de Beirute

Yussuf trabalha com afinco na Place de l’Etoile no centro Beirute. Para se deslocar ao trabalho, na Biblioteca Nacional, percorre diariamente mais de 30 kilometros em dois autocarros. A sua mulher já lhe pediu para ficar em casa nestes dias de horror. Tem muito medo e quer que o marido fique junto dela e dos filhos. Mas Yussuf está determinado. É preciso pôr a salvo mais de 2000 manuscritos antigos. Mil e duzentos desapareceram ou ficaram irremediavelmente destruídos durante a guerra civil de 75-79. Desta vez é preciso proteger o que restou. Assim, todas as manhãs desde o início dos bombardeamentos Yussuf junta-se a Tariq para embalar, encaixotar e transportar os preciosos volumes para as caves da Biblioteca. A Biblioteca está fechada e os restantes colegas há mais de uma semana que não põem lá os pés, mas Yussuf e Tariq são inabaláveis. Sucessivamente, descem carregados e sobem de mãos vazias os duzentos degraus que separam as masmorras da sala de preservação e restauro, enquanto blasfemam os infiéis israelitas e americanos cada vez que mais uma bomba cai perto da Biblioteca.
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