quarta-feira, julho 26, 2006

A Biblioteca de Beirute

Ilustração: Mazen Kerbaj
Yussuf trabalha com afinco na Place de l’Etoile no centro Beirute. Para se deslocar ao trabalho, na Biblioteca Nacional, percorre diariamente mais de 30 kilometros em dois autocarros. A sua mulher já lhe pediu para ficar em casa nestes dias de horror. Tem muito medo e quer que o marido fique junto dela e dos filhos. Mas Yussuf está determinado. É preciso pôr a salvo mais de 2000 manuscritos antigos. Mil e duzentos desapareceram ou ficaram irremediavelmente destruídos durante a guerra civil de 75-79. Desta vez é preciso proteger o que restou. Assim, todas as manhãs desde o início dos bombardeamentos Yussuf junta-se a Tariq para embalar, encaixotar e transportar os preciosos volumes para as caves da Biblioteca. A Biblioteca está fechada e os restantes colegas há mais de uma semana que não põem lá os pés, mas Yussuf e Tariq são inabaláveis. Sucessivamente, descem carregados e sobem de mãos vazias os duzentos degraus que separam as masmorras da sala de preservação e restauro, enquanto blasfemam os infiéis israelitas e americanos cada vez que mais uma bomba cai perto da Biblioteca.