quinta-feira, janeiro 25, 2007

Hábitos de leitura no Japão III, 2º e 3º ciclos: rapazes adolescentes

As revistas para rapazes adolescentes denominam-se SHONEN MANGÁ e constituem o segmento editorial mais forte no Japão. Vendem mais de QUINZE MILHÕES de exemplares por semana, pelo que a leitura no Japão é um negócio da China. Ao contrário das revistas femininas marcadas pelo romantismo, as revistas para rapazes abordam temáticas bélicas, samurais invencíveis, aventureiros de ficção científica, desportistas e têm como constante deontológica as condutas japonesas típicas de autodisciplina, perseverança, profissionalismo e competição. O que caracteriza o interesse pelas revistas é a VIOLÊNCIA que transita pelas suas páginas mono cromadas a preto e branco, violência que é geralmente tão difícil de entender para um ocidental. De qualquer forma a agressividade, a imagem do sangue, a mutilação de um corpo também pode desempenhar uma função estética, ou artística, na cultura e na sociedade japonesas (vejam-se por exemplo os filmes de Akira Kurosawa, as cenas estilizadas de batalhas no teatro Kabuki ou a influência que esta tradição de violência estética exerceu em alguns realizadores consagrados no ocidente como Quentin Tarantino). Contudo, não é necessário recearmos a má influência da violência estilizada sobre os nossos filhos. E se dúvidas houverem, é sempre bom lembrar que o Japão é um país com um dos índices de criminalidade mais baixos do mundo (a YAKUZA – célebre máfia japonesa – é um mito do passado). É muito difícil alguém (homem ou mulher) ser assaltado, abordado com agressividade ou sentir insegurança em qualquer hora do dia ou da noite nas ruas de cidades como Tóquio ou Osaka. A circulação de armas é muito restritiva e fortemente controlada e até a Constituição Japonesa renuncia expressamente à guerra. É a única no mundo. Para além da violência as histórias para rapazes também transpiram sexo nas suas páginas, embora não possam ser consideradas revistas eróticas ou pornográficas (existe um mercado específico de mangá pornográfico e erótico para adultos). Também, ao contrário do ocidente das três religiões castradoras (judaica, cristã e muçulmana), a nudez no Japão não é vista como pecaminosa. O simbolismo sexual é parte integrante da religiosidade e tem um sentido mágico ou estético (tal como o Kama Sutra e os Tantras, que são parte integrante do Hinduismo) – embora seja possível encontrar algum puritanismo moderno japonês, que resulta da influência dos missionários ocidentais do início do séc. XX que condenaram o nudismo japonês e… e não me apetece escrever mais.