segunda-feira, outubro 22, 2007

Serviço de aquisições


Escrito e desenhado à cerca e quarenta anos, numa época em que o desenvolvimento económico do Japão era um interesse de dimensão superior às condições vida das pessoas, Tatsumi utiliza a mangá (banda desenhada) para denunciar, de um modo literário, a exclusão através de pequenas histórias pessoais. Histórias, por exemplo, da vida de um varredor de ruas e da sua mãe uma ex prostituta velha e doente, ou de um operário que perde um braço num acidente de trabalho. Crónicas sobre a angústia de um limpador de esgotos, cuja mulher está grávida e desempregada ou a raiva contida de um trabalhador que pendurado num arranha-céus de vidro a limpar a mega estrutura, depara com a sua filha, uma modesta secretária, envolvida com um executivo da empresa. São estes os temas que interessam a este singular autor (e não sagas de samurais, aventuras pós apocalipse ou monstros fofinhos que saem de bolas para combater) e que por esse motivo é também, ele próprio, um excluído dos “heróis” milionários autores de mangá japoneses, que têm no Japão um estatuto idêntico às estrelas pop. É, também pelo mesmo motivo, considerado o pai da mangá alternativa ou independente (por casualidade o seu trabalho começou a ser publicado no Japão, na mesma altura em que o movimento comix underground se expande nos EUA), uma vez que esta mangá não é a das grandes produções ou das grandes editoras comerciais. De referir, por último, que apesar do tema soar a literatura de intervenção, as histórias estão longe de constituir um manifesto comunista ou político de esquerda. Parece-me que o autor é céptico demais para ir por aí, de qualquer forma a maioria dos contos é narrada num tom melancólico mas negativo, por vezes chega mesmo ao horror.

Localização na biblioteca: “secção de adultos” – Área de lazer, obras de ficção.

TATSUMI, Yoshihiro – Abandon the old in Tokio. Montreal: Drawn and Quarterly, 2006. ISBN: 1-894937-87-2

Nota: este “Serviço de Aquisições” não é um aconselhamento à compra por parte das bibliotecas. É apenas um registo dos livros lidos pelo infeliz autor deste blogue. De qualquer modo muitos dos livros podem, de facto, ser adquiridos pelas Bibliotecas Públicas. Lembro-me a propósito que a IFLA e a ALA recomendam algures (não sei bem onde?) a aquisição de bandas desenhadas em línguas estrangeiras como ferramenta de apoio lúdico à aprendizagem de outros idiomas, que é uma competência cada vez mais exigível num mundo globalizado, para além das aquisições obrigatórias nas línguas das comunidades imigrantes, pelo que a este respeito considero que a aquisição de materiais lúdicos em inglês e espanhol fazem todo o sentido, num mundo onde o domínio apenas da língua portuguesa não chega. As bibliotecas que entretanto adquiriram bandas desenhadas noutras línguas poderão fazer acções de marketing junto dos professores locais de inglês, espanhol e francês no sentido de promoverem as colecções nas respectivas salas de aula.