sexta-feira, maio 22, 2009

Ooops! Acho que acabei de inventar uma nova TEORIA NEGACIONISTA DO BIBLIOCAUSTO

E tudo por causa de uma crítica ao livro «História Universal da Destruição dos Livros» que é devida ao autor, Fernando Báez, por não saber (ou não querer) distinguir duas situações absolutamente diversas em matéria de devastação bibliográfica, a saber:

- A DESTRUIÇÃO DA OBRA

e

- A DESTRUIÇÃO DE CÓPIAS

Em todo o mundo e em todas as épocas destruíram-se livros. Contudo nem sempre se conseguiu a DESTRUIÇÃO DA OBRA. E é apenas a DESTRUIÇÃO DA OBRA que se pode configurar num HOLOCAUSTO BIBLIOGRÁFICO.

E o que é a destruição da obra? Pergunta, desde logo, o leitor atento deste blogue (olá Mãe!).

É a destruição do único ou do último exemplar existente no mundo de qualquer produção humana de carácter intelectual ou artístico sem que essa produção possa ser reposta.

Assim, podemos afirmar com segurança que desde 1450, com a invenção da tipografia, a destruição da obra passou a ser rara, muitíssimo difícil senão mesmo impossível. As cópias (tiragens de livros), sendo numerosas, espelharam-se pelas cidades e pelos mais variados países. A sua destruição passou a ser uma tarefa ciclópica e “inglória” para os “mauzões”. Neste sentido as queimas de livros efectuadas pela Santa Inquisição ou pelos Nazis não passaram de meros actos simbólicos de censura. Graves, porque foram censuras acompanhadas de terror, mas não foram holocaustos bibliográficos. De nada valeu à igreja queimar cópias e cópias do «Alcorão» ou do «Inferno de Dante» porque o conteúdo esteve sempre a salvo. Assim como de nada valeu aos Nazis queimarem tudo, com excepção do Mein Kampf e de nada me valeu a mim destruir todos exemplares do Sport Lisboa e Benfica encontrados em minha casa, porque tanto O SANTO OFÍCIO, como o III REICH, como EU, por mais que tentássemos (eu pelo menos tentei arduamente)... apenas conseguimos DESTRUIR UMAS MISERÁVEIS CÓPIAS.

Contudo, houve grandes HOLOCAUSTOS BIBLIOGRÁFICOS ao longo da história da humanidade nomeadamente com o desaparecimento da grande maioria das tábuas de argila da antiga babilónia e suméria (mais de 2000 anos de conteúdos irremediavelmente perdidos sobretudo devido à erosão, catástrofes naturais e a guerras). A perda de inúmeros exemplares únicos de rolos de papiro da antiguidade (Egipto, Grécia e Roma antiga) ou de códices ao longo da idade média. A destruição de livros no extremo oriente (China e Japão) e na Índia anteriores à importação da tipografia. E também a devastação bibliográfica das civilizações Maia e Asteca, porque se tratavam de exemplares únicos que se perderam irremediavelmente, perdendo-se também o conhecimento e a memória dessas civilizações. Estes sim, são desastres de dimensão apocalíptica.

Gostaria de dedicar ainda uma nota adicional ao autor do livro escrevendo simplesmente que NEM TODA A DESTRUIÇÃO DE LIVROS (CÓPIAS) É MÁ. Por vezes a destruição de livros (cópias) é a única forma de GARANTIR A “SALVAÇÃO” DE OUTROS LIVROS (CÓPIAS) ELEITOS PARA NÃO SEREM DESTRUIDOS. Ou seja a DESTRUIÇÃO PARA EFEITOS DE PRESERVAÇÃO. Silly, isn’t it?... De qualquer modo esta nobre actividade acontece, sobretudo, por motivos de gestão do espaço. Se uma garagem tem apenas espaço para dois carros e temos de arrumar um terceiro, não nos resta alternativa senão a saída de um dos outros dois. Com os livros passa-se exactamente o mesmo. Só que a Biblioteca é a garagem e os livros são os carros. E fico-me por aqui em matéria de metáforas com garagens e carros.

Beijinhos a todos e bom fim-de-semana,