Ilustração de Edmond Baudoin
Em 19 de Abril de 1506 escrevia-se uma das mais tristes páginas na história mundial do anti-semitismo. E essas páginas escreveram-se precisamente nas ruas de Lisboa. Na velha judiraria de Lisboa. Em Portugal portanto, no reinado de D. Manuel. E que páginas foram essas? Foram a perseguições brutais e a morte de mais de quatro mil cristãos novos. Foi a morte impiedosa e a tortura de milhares de antepassados nossos por outros antepasados nossos. É curioso também que no tempo de D. João II (o reinado anterior) aplicáva-se a tolerância e o país teve um nível de desenvolvimento sem paralelo na história. Vivia-se a tolerância porque em Lisboa existia o maior bairro negro da Europa de então. O Mocambo. Porque os mouros ainda não tinham sido expulsos e cooperavam com o rei, assim como festejavam com ele sempre que houvesse celebrações. E havia tolerância porque existia uma grande comunidade hebraica (os judeus sefarditas da Península Ibérica). Sábios, médicos, matemáticos. Senhores da ciências e das finanças. Mas com D. Manuel tudo isso terminou. Os mouros foram expulsos e os judeus perseguidos. Era o início da Santa Inquisição, em que o episódio mais sangrento foi, sem dúvida, o que teve início no dia 19 de Abril de 1506. A época era de fome e de seca. Em Lisboa alguns fiéis testemunharam uma estranha luminsidade sobre a figura de um santo. Logo começaram os gritos de milagre! milagre!... Até que um homem reparou que aquilo não passava de um mero reflexo do sol e disse-o em voz alta. Azar o dele! Foi de imediato espancado até à morte e o seu corpo arrastado pelas ruas de Lisboa acusado de judeu pela população em fúria que numa avalanche de ódio não tardou em perseguir e matar tudo o que era cristão novo que lhe aparecesse pela frente incluindo crianças e bébés. Faz na 4ª Feira Quinhentos Anos que tudo isto aconteceu em Lisboa. Hans Zimmler descreve este episódio muito bem no «Último cabalista de Lisboa». Se fossemos um país um pouquinho mais desenvolvido estes factos não seriam esquecidos pelas instituições e pelos representantes do estado, assim como na Alemanha a libertação de Auschvitz e de outros campos de concentração é oficialmente lembrada. Mas infelizmente aqui só comemoramos jogos de futebol e feitos heróicos. Lembrou-se contudo o blogue http://ruadajudiaria.com/ que nos convida a estar presentes no dia 19 de Abril no Rossio e acender uma vela em memória da vítimas. EU VOU!
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