sexta-feira, julho 28, 2006

Fechado para férias

il. Miguelanxo Prado
Reabrimos a 4 de Setembro
Obrigado

quarta-feira, julho 26, 2006

A Biblioteca de Beirute

Ilustração: Mazen Kerbaj
Yussuf trabalha com afinco na Place de l’Etoile no centro Beirute. Para se deslocar ao trabalho, na Biblioteca Nacional, percorre diariamente mais de 30 kilometros em dois autocarros. A sua mulher já lhe pediu para ficar em casa nestes dias de horror. Tem muito medo e quer que o marido fique junto dela e dos filhos. Mas Yussuf está determinado. É preciso pôr a salvo mais de 2000 manuscritos antigos. Mil e duzentos desapareceram ou ficaram irremediavelmente destruídos durante a guerra civil de 75-79. Desta vez é preciso proteger o que restou. Assim, todas as manhãs desde o início dos bombardeamentos Yussuf junta-se a Tariq para embalar, encaixotar e transportar os preciosos volumes para as caves da Biblioteca. A Biblioteca está fechada e os restantes colegas há mais de uma semana que não põem lá os pés, mas Yussuf e Tariq são inabaláveis. Sucessivamente, descem carregados e sobem de mãos vazias os duzentos degraus que separam as masmorras da sala de preservação e restauro, enquanto blasfemam os infiéis israelitas e americanos cada vez que mais uma bomba cai perto da Biblioteca.

segunda-feira, julho 24, 2006

O pior pesadelo


Depoimento:
«Bem vocês sabem!... O André, o bibliotecário bonitinho, estava a falar comigo na sala do tratamento preliminar e eu estava a encostar-me à estante à procura da posição mais cool, ao mesmo tempo que me ria e encostava a cabeça para traz. De repente senti o meu corpo a desequilibrar-se e a estante a tombar, que acabou em colapso provocando um efeito dominó sobre as outras».

Adaptação livre de “É uma merda quando isso acontece” em http://moreno.extralibris.info/

Serviço de aquisições

O Colégio de Arquitectos da Galiza encomendou uma obra destinada a divulgar a importância da agricultura e do desenvolvimento sustentável nas sociedades modernas e Miguelanxo Prado escreveu e desenhou «A mansão dos Pimpão». A família Pimpão é uma família pequeno burguesa que gosta muito de dinheiro fácil a quem coube por testamento um imóvel em ruínas que dá mais despesa e trabalho do que rendimentos. Nesta história entram também um presidente da câmara e um empreiteiro amigo que por sinal também gostam muito de dinheiro e se que estão nas tintas para o desenvolvimento sustentável. Estes são os personagens e os ingredientes da mais recente história deste corrosivo autor galego.
PRADO, Miguelanxo – A mansão dos Pimpão. Porto : Asa, 2006. ISBN: 972-41-4585-9
Mais banda desenhada feminina. E porque é que eu gosto tanto de histórias em BD contadas por mulheres? Porque me dão uma perspectiva diferente das coisas? Porque são pragmáticas a denunciar casos e situações de injustiça? Porque têm um sentido de humor muito próprio? Porque sabem contar e desenhar coisas novas sem se desligarem da sua identidade, das suas raízes. Não sei! Sei apenas que «De ellas» é uma grande antologia de autoras ibero falantes (castelhano, catalão e português), uma anglófona e uma italiana. As histórias são muito boas e os desenhos perfeitos. Só não sei como é que os jornais portugueses, que gostaram tanto da Maitena, ainda não descobriram estas Senhoras. Um mistério insondável.

DE ELLAS. Alicant : De Ponent, 2006. ISBN: 84-89929-84-X

Serviço de aquisições

O homem que caminha é uma banda desenhada do mestre japonês Tanigushi. Recomendado sobretudo às pessoas que pensam que a banda desenhada japonesa é uma aberração altamente nociva e excessivamente violenta. A verdade é que a banda desenhada de Tanigushi está nos antípodas da acção, da guerra e da violência. É, em bom rigor, a banda desenhada mais calma, mais introspectiva, mas pacifista que já li e que conta (neste livro) a história simples de um homem que gosta de passar os seus tempos livres a passear, a caminhar e a observar. São passeios mudos, solitários e sem destino em que o protagonista pode subir a uma árvore, observar os pássaros, saborear uma chuva ou perder-se na sua cidade. Recomendado também aos generais de Israel e aos lideres do Hezbollah.

sexta-feira, julho 21, 2006

Serviço de aquisições

O título é Allgirlzine e trata-se de um fanzine no feminino. São histórias curtas em banda desenhada feitas por mulheres portuguesas, o que é raro. Na verdade só isto é motivo suficiente para adquirir e colocar na estante dos destaques. O mentor do projecto é do sexo masculino. É também lusitano, autor de BD com carreira internacional e chama-se Daniel Maia.

We are the Robots


A Universidade Jaume I na Catalunha está a desenvolver um robot-trabalhador para as bibliotecas. O UJI Online Robot. Ao que parece este robozinho é capaz de receber ordens sonoras dos leitores, localizar e retirar documentos das estantes. Parece também que isto é apenas o princípio de uma segunda revolução digital no mundo do trabalho, pois os investigadores já estão a trabalhar em robots capazes de fazer pesquisas online, catalogar, indexar, emprestar documentos, gerir bibliotecas, dirigir câmaras municipais e até países sub desenvolvidos como Portugal. Entretanto alguns autarcas portugueses já começaram a encomendar Robots a Espanha na perspectiva de abrir as suas bibliotecas públicas 24h por dia, 7 dias por semana. Vão finalmente conseguir em simultâneo reduzir custos com recursos humanos e aumentar o horário de abertura das bibliotecas. Segundo um inquérito realizado pelo INE, ansiosos estão também 9 milhões de eleitores lusos com a perspectiva de elegerem o UJI 2.0 como futuro ministro das finanças e primeiro-ministro de Portugal.

segunda-feira, julho 10, 2006

Portugal rumo às sociedades do conhecimento


Jon Stewart no seu Daily Show apresenta o Fredoom vs Security Analyst. Com o devido respeito o bibliotecário anarquista propõe ser o humilde Analista da Sociedade do Conhecimento vs Futebol na ditosa pátria. E para começar quero apenas lembrar que na semana passada saiu no Diário de Notícias um importante artigo de fundo do Presidente da Unesco sobre as Sociedades do Conhecimento. Neste texto Matsuura diz que «o que está em causa é o destino de todos os países, uma vez que as nações que não investirem suficientemente no conhecimento, educação e na ciência de qualidade põem em perigo o seu próprio futuro e ficam sem poder cerebral vital». Assim, «os governos devem investir mais em educação de qualidade para todos de forma a assegurar a igualdade de oportunidades. Os países devem destinar uma parte substancial do PIB à educação» E lembrou também que «fundos substanciais para a educação e o saber poderiam também ser libertados por políticas de reforma corajosas destinadas a reduzir as despesas não produtivas, a melhorar a eficiência dos serviços públicos, modernizando a burocracia, eliminando subsídios ineficazes e combatendo a corrupção». Na mesma semana o Presidente da Câmara de Faro lembrou os portugueses que precisa de mais subsídios públicos para o eficiente Estádio do Algarve. Por outras palavras lembrou os portugueses que precisa de uma fatia substancial do PIB para assegurar a manutenção do seu Estádio, esse magnífico templo da ciência e do conhecimento.

Eu por mim estou disposto a conceder uma fatia da minha produtividade ao autarca. Gostaria, no entanto, que essa verba fosse utilizada em acções de formação. Gostaria pois que os edis, deputados, membros do governo e respectivos boys & girls portugueses frequentassem uma acção de formação em Paris (nada mau!), na sede da Unesco durante uma semana com o Koichiro Matsuura.
Um abraço,

Gijón e a sua Semana Negra

Está aí a Semana Negra. Este ano o tema principal é a Guerra Civil de Espanha (está-se a “comemorar” precisamente os seus 70 anos) abordada numa perspectiva de ficção científica. Assim, fazendo uso da ucronía (um sub género da ficção científica que estuda a história alternativa) convidam-se autores e participantes a trabalharem a guerra civil e as suas consequências na Espanha, na Europa e no mundo partindo do pressuposto transmutado de que as tropas de Franco perderam a guerra. Na galeria de convidados para a edição deste ano encontramos autores hispano falantes como Javier Negrete, Juan Miguel Aguilera, Rafael Marín, Eduardo Vaquerizo, Pedro Pablo May, David Soriano, José del Valle, Ramón Muñoz e Santiago Eximeno, aos quais se junta o francês Jerome Leroy. A exposição central de banda desenhada acolherá uma das mais significativas mostras sobre a Guerra Civil e nela participarão autores como Victor Mora, Annie Goetzinger, Antonio Parras, Alfonso Font, Vittorio Giardino, Jorge Garcia, Marchante, Gallardo, Roger, Ameziane, Carlos Ezquerra, Felipe Hernández Cava, Beroy, Pepe Gálvez, Laura, Federico del Barrio, Warren Ellis e Hernández Palacio. O festival de fotojornalismo que se realiza dentro da Semana Negra é dirigido pelo prémio Pulitzer espanhol Javier Bauluz e apresentará quatro trabalhos fotográficos: a recuperação digital do arquivo fotográfico do Partido Comunista Espanhol sobre a guerra civil, as fotografias do arquivo da Associated Press, um trabalho documental sobre o regresso dos sobreviventes das Brigadas Internacionais a Espanha, um trabalho sobre as valas de execução comum e a recuperação da memória. A edição deste ano conta ainda com diversos convidados especiais como Tariq Ali, romancista anglo paquistanês com uma visão diferente da história partindo de uma perspectiva árabe. Joe Haldeman, um clássico da ficção científica do século XX. Jacques Tardi, um dos mais importantes autores franceses de banda desenhada, que irá falar sobre a Comuna de Paris. E ainda nomes como Barry Eisler, Carlo Lucarelli, Ignacio Martínez de Pisón, Richard Morgan, Patrick Rambaud, Víctor Mora, etc. Em suma contarão com mais de 150 autores convidados em quatro grandes géneros literários: romance negro, ficção científica, banda desenhada e romance histórico com intervenções pontuais na poesia. Contam ainda com um espaço destinado a 35 livrarias especializadas onde irão desenvolver uma «engenhosa operação» de promoção da leitura que está no segredo dos deuses. O seu incansável e divertido director desde 1988 é o autor hispano mexicano Paco Ignacio Taibo II. Ainda estão a tempo de pegar no carrinho e dar uma escapadela. Boa viagem!