domingo, janeiro 27, 2008

As Comunidades de Leitores na Antiguidade

Jerusalém, há muito tempo atrás…

- Irmãos! E se formássemos uma COMUNIDADE DE LEITORES? Somos exactamente doze, Um número que me parece bastante razoável para um clube de leitura. Que achais?
- Eu continuo a ser da opinião que devíamos fundar uma RELIGIÃO, senhor?
- A mim também me parece que o Lucas tem razão. Se fundarmos uma RELIGIÃO podemos pregar o Evangelho aos judeus assim como aos gentios em toda a Galileia.
- Mas não vedes? Uma COMUNIDADE DE LEITORES É UMA RELIGIÃO. E reparai que a partilha de uma Tábua de Argila pode manter a comunidade unida. Que mais quereis?...
- Eu pessoalmente gostava de ver os pães multiplicados, senhor.
- Mas Tiago, a leitura alimenta o espírito e sustenta a fé. Já vistes que, desde que não fossemos muito exigentes e usássemos tábuas de argila com temas que não deixem as pessoas indiferentes, podíamos fazer CRESCER E MULIPLICAR AS COMUNIDADES DE LEITORES em toda a Galileia, e quem sabe, pela Grécia, Egipto e Roma e assim PROMOVER A TÁBUA DE ARGILA E OS HÁBITOS DE LEITURA EM TODA A TERRA?...
- Sim senhor! Tendes razão, mas os jovens de hoje já não ligam às Tábua de Argila. Andam seduzidos com as novas tecnologias e não largam os Rolos de Papiro. Qualquer dia ninguém lê, senhor. Uma RELIGIÃO é melhor. Tem mais seguidores.
- Também pensais assim Judas?... Reparai que há muito tempo se fala no FIM DAS TÁBUAS DE ARGILA, mas elas nunca desaparecem, nem vão desaparecer. Há coisas que são insubstituíveis. O seu cheiro, o tacto e o design proporcionam prazeres tão grandes que os rolos jamais serão capazes de oferecer, para além não cansarem a vista quando lemos.
- Mas com uma RELIGIÃO, senhor, podeis fazer MILAGRES e assim ajudar os cegos, os doentes e os pobres?
- Contemplai Lázaro, que A LEITURA TAMBÉM FAZ MILAGRES. O carpinteiro pobre, assim como o pescador ou o pastor humilde que lêem podem descobrir novas técnicas para benfeitorizar o seu ofício e assim melhorar as suas vidas. Para além de poderem ocupar os seus tempos livres com alegrias lúdicas que não imaginavam existir. Que pensais?...
- Hum… Eu não estou lá muito convencido.
- E eu também não, senhor.
- Nem eu!
- Eu pessoalmente vim a pé desde Caná, senhor. Se soubesse que era para formar um CLUBE DE LEITURA não tinha saído de casa.
- Bom! E se comêssemos pão e bebêssemos vinho durante as sessões, irmãos?
- Assim já é falar, senhor!
- E podemos também escolher as Tábuas de Argila para ler nas sessões seguintes, senhor? Eu pessoalmente gosto muito das Tábuas de Auto Ajuda.
- Sim André. Podeis escolher, mas tendes que estabelecer regras. Regras para a dinamização das sessões e para a escolha das tábuas.
- Sim senhor, boa!
E assim começou uma das primeiras comunidades de leitores da história da humanidade. Ao que parece outros profetas anteriores, designadamente Shiva, Sidharta e Moisés terão formado eles também as suas COMUNIDADES DE LEITORES COM IDÊNTICO SUCESSO.
Cartoon de Gerhard Haderer

terça-feira, janeiro 22, 2008

Estado Português ADQUIRE FAMOSA COLECÇÃO DE FADO. Passados 15 minutos CAI EM SI e OFERECE TUDO AO KAZAA (programa de partilha de ficheiros MP3)


Ilustração de Pepedelrey

«Depois de nos lembrarmos que não havia pessoal técnico qualificado, condições de armazenamento, preservação, hardware para digitalização dos conteúdos, garantias técnicas de não obsolescência dos ficheiros informáticos, fonógrafos antigos de 78 rpm, ou mesmo, simples gira-discos, leitor de cassetes ou qualquer equipamento de som em todo o Ministério da Cultura (tirando, obviamente, o transístor do senhor Neves o contínuo da Secretaria Geral), fizemos a única coisa que estava ao nosso alcance para DISPONIBILIZAR ESTE VASTO PARIMÓNIO AOS PORTUGUESES que era, no fundo, DOÁ-LO DE IMEDIATO AOS ESTRANGEIROS antes que fosse tarde de mais», confidenciou ao anarquista uma Ministra da Cultura que preferiu manter o anonimato.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

O paradoxo idiota do bibliotecário anarca


Ilustração: Filipe Abranches

Na minha opinião, as Bibliotecas Públicas não têm de ter nenhum preconceito em ADOPTAR A “FILOSOFIA DAS GRANDES SUPERFÍCIES”. Não têm porque, tal como as grandes superfícies os seus serviços são para TODA A COMUNIDADE, mas ao contrário destas os seus serviços são GRATUITOS. Curiosamente, (aí está o paradoxo!) só assim podem ser de facto uma AMEAÇA (embora involuntária, porque não é essa a sua missão) AO CAPITALISMO GLOBALIZANTE. Pelo contrário se as bibliotecas públicas adoptarem a filosofia do pequeno comércio de bairro ou de pequenas livrarias como a “Ler Devagar”, não só não se apresentam como alternativa ao hipermercado, pois atingem apenas uma minoria de pessoas, como ainda por cima, entram em concorrência com o pequeno comércio cultural servindo, involuntariamente, os INTERESSES DO CAPITALISMO GLOBALIZANTE.

Pergunta:
Então o que é para si uma boa Biblioteca Pública, seu anarca de meia tigela?
- É uma FNAC GRATUITA GIGANTE, com milhões de actividades para os putos e os teenagers, com ACESSO GRATUITO A CENTENAS DE COMPUTADORES e Internet, com ARQUITECTURA DO SANTIAGO CALATRAVA, excepto no mobiliário, e com uma Gelataria Hagen Dasz ao fundo do corredor. That would make my day, punk!...

Querido diário


Ilustração Joe Sorren

Ser canhoto é cruel. Ainda hoje no metropolitano voltei a colocar o bilhete na porta de saída… do lado esquerdo. A senhora que estava ao meu lado agradeceu o gesto e foi-se embora, fechando-se a porta atrás dela e deixando-me encravado (qual totó!) no interior da estação.

E o que tem isto a ver com o assunto principal deste p@squim electrónico?... Perguntam muito legitimamente os meus milhões de leitores?... Tem. É que por causa deste infeliz contratempo cheguei atrasado à Biblioteca.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Querido diário

Ilustração: Richard Câmara
Ocorreu-me finalmente um grande nome para a futura Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal Central: «Apreciamos sobretudo as bolachas».
Ou então:
«Também gostamos de Proust, mas apreciamos sobretudo as bolachas»
Que vos parece?

Grandes bibliotecas

EXTRA! EXTRA! READ ALL ABOUT IT!... A magnífica e assombrosa edição de hoje do Jornal de Letras é especialmente dedicada aos 20 anos da Rede de Leitura Pública. Gloriosos artigos sobre as melhores e mais dinâmicas bibliotecas públicas nacionais. Serviços de excelência muito justamente referenciados ou dilatadamente apresentados. Felicitações a todos e um barbaric yawp ao Henrique Barreto Nunes, à Maria José Moura, à Póvoa do Varzim, Matosinhos, Espinho, Ílhavo, Seixal, Oeiras, Vila da Feira, Sobral do Monte Agraço, regiões autónomas da Madeira e dos Açores, Évora, Beja, Porto, Braga, Guimarães, Trancoso, Alfandega da Fé, Figueiró dos Vinhos, às magníficas bibliotecas do Algarve, Alentejo, Trás-os-Montes e a todos os protagonistas ou simples figurantes nestes 20 anos de «Revolução Silenciosa» (NUNES, 2008).

Abraço do anarquista que aqui fica a soltar alguns acordes tristes e desafinados

«Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim»

domingo, janeiro 13, 2008

Utilizadora, algo excessiva, tinha em sua casa mais de 1.000 documentos (livros, jogos, música e DVDs) da biblioteca pública

Ilustração: Erik Bergstrom

O caso ocorreu em Akron, no Ohio. Segundo a polícia local a senhora alegou ter 34 filhos e que todos adoravam DVDs, jogos e livros, quando na verdade Tammie Ware, a prevaricadora, tem apenas 4 filhos. Dados da Biblioteca Publica de Akron revelam ainda que o valor dos materiais que a senhora levou “emprestado” ultrapassam os 15.000 dólares (montante superior ao orçamento de algumas bibliotecas públicas subsarianas como Uagadugu, Cartum, N’Djamena e Libreville) e que a multa a que está sujeita é superior a 1.000 dólares. O porta-voz da polícia local, o tenente Rick Edwards, referiu ainda que foi necessária uma carrinha “pick up” para recolher e transportar todo o material de volta para a biblioteca. Os materiais regressaram contudo em bom estado. Edwards referiu ainda que a senhora Ware conseguiu 34 cartões da biblioteca (a partir de nove moradas diferentes) em nome dos seus filhos e que dessa forma ia acumulando os materiais em casa desde 2000. Carla Davis, a bibliotecária porta-voz, disse, por seu turno, que lamentavelmente a senhora não conseguiu entender o princípio básico da “partilha de recursos” que a maioria dos utilizadores entende perfeitamente: o princípio do empréstimo e a correspondente DEVOLUÇÃO.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Promoção do Livro e da Leitura na cloaca

O Library Link of the Day de hoje deixou-me especialmente animado. Dedicado ao lendário tema das LEITURAS NA SANITA proporcionou-me um bom começo do dia. Gostei, também, de saber que segundo Kreismer (admirável investigador do tema) a leitura na retrete teve o seu início em 1857, data cósmica que coincide com a invenção do papel higiénico. Contudo, existem provas insufismáveis que revelam a existência de bibliotecas nos banhos romanos onde os banhistas podiam ler confortavelmente os seus rolos de papiro favoritos.

Eu, pessoalmente, nunca me tinha apercebido que se podia ler na casinha…

domingo, janeiro 06, 2008

As profecias do Professor Kilomba


“Estou firmemente convencido que o alcaide de Guadalajara que construir 6 bibliotecas destas, bem situadas, e mandar napalm em cima das actuais 20, tem – garantidamente – dez maiorias absolutas consecutivas e cinquenta anos seguidos de presidência”, declarou entusiasmado o Professor Kilomba ao visitar as novas instalações da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.

Cidadãos de Lisboa ameaçam transferir-se maciçamente para o Alto Minho!

Nova Biblioteca de Viana do Castelo abre as suas portas a 20 de Janeiro. Projectada por Siza Vieira, teve um orçamento de 4,5 milhões de Euros. Os seus 36.750 felizardos habitantes terão à disposição cerca de 100.000 livros, periódicos, CDs e DVDs, para cosulta local e empréstimo domiciliário, num espaço que ocupa os 3.130 metros quadrados (cumprindo e superando as recomendações da IFLA / UNESCO). O horário de funcionamento é igualmente imbatível (10h – 22h) deixando a generalidade dos “alfacinhas” boquiabertos e, muito legitimamente, à beira de um ataque de nervos.

Entretanto um cálculo ousado do contabilista anárquico revelou que cada estádio do Euro 2004 (com um custo médio de 250 milhões de euros) dava para construir 55 bibliotecas públicas destas, enquanto o Túnel do Marquês (300 milhões de euros) dava para edificar 60 bibliotecas assinadas pelo Siza. Nice! Very Nice.

Por último, em entrevista exclusiva ao anarquista, um bibliotecário anónimo deixou no ar a pergunta fatal: “AINDA HÁ VAGAS para trabalhar na vossa biblioteca?” …
Aguardamos a resposta com tranquilidade.