Sertã. Biblioteca Municipal. Janeiro de 2010.
PEPE – Não acredito. Que xunga! Vais mesmo criar uma COMUNIDADE DE LEITORAS DA "MARIA" E DA "CARAS"?
LUÍSA – Vou!
PEPE – Para quê? Isso é mau demais.
LUÍSA – Para desempregadas de longa duração com baixos níveis de literacia.
PEPE – Eh… Eh… Eh… E vais me dizer que lendo essas merdas elas vão arranjar emprego?
LUÍSA – Espero que sim.
PEPE – És mesmo xunga. Primeiro quiseste decorar a biblioteca como o MacDonalds e agora queres promover a Caras e a Maria, quando devias era promover o Jornal de Letras.
LUÍSA – Aí é que te enganas querido Pepe.
PEPE – Ai é! Então explica-me lá porquê?
LUISA – Em primeiro lugar porque estas mulheres nunca entraram numa biblioteca pública. Com a selecção destas revistas espero conquistá-las. É a única coisa que gostam de ler.
PEPE – O.k e então?...
LUÍSA – E então, como mal sabem ler vou começar por fazer exercícios de leitura em voz alta precisamente com aquilo que gostam. Vou treiná-las na destreza da leitura.
PEPE – Não estou a ver onde queres chegar?
LUISA – Se lerem mais depressa, com maior ritmo e facilidade, vão ganhar autoconfiança.
PEPE – Hum?…
LUISA – Vão gostar mais de si próprias. Vão expressar-se melhor. Vão sentir maior auto-estima. E vão, VOILÁ..., sentir-se motivadas para outros voos.
PEPE – O.k. é aí que entra o Bill Gates para as contratar?
LUISA – Ainda não, mas entro eu para as convencer a inscreverem-se em acções de formação. No início formação informal na biblioteca e depois formação qualificante.
PEPE – Bem. Se é assim, mais vale sair da tutela da Cultura para nos tornármos um Serviço Social e Educativo, verdade?...
LUÍSA – Talvez querido Pepe. Talvez!