quinta-feira, junho 26, 2008
sexta-feira, junho 13, 2008
terça-feira, junho 10, 2008
Clube de Leitura Inglês
Segundo Robert Crumb “o trabalho de Charles Burns é um misto de horror e humor executado de um modo frio mas implacavelmente translúcido” e pessoalmente não podia estar mais de acordo. Ler “Skin Deep” é uma experiência que não pode causar indiferença ou um simples prazer lúdico. No meu caso provocou, em simultâneo, perturbação e (estranhamente…) bom humor. Os seus personagens são bizarros, assustadores ou sinistros e os ambientes são negros ou sombrios, mas com um toque divertido. Dog Boy, por exemplo, é um rapaz loiro com ar americano (estilo anos 50) mas com o coração transplantado de um cão, que não consegue evitar a reacção de um canídeo (como correr e ladrar atrás de um gato) a estímulos idiotas como um simples miar. Blis Blister é um pastor funesto, um falso milagreiro de uma igreja negócio americana ao estilo Disneylândia das Trevas. Skin Deep trata-se de um livro que pode ser alvo de censura na biblioteca por ser, para muitos, extremamente negativo, sombrio e perturbador, mas e por esse motivo, é ainda mais tentador adquiri-lo, arrumá-lo na estante em difusão activa (“face out”) e esperar pelas reacções entusiásticas dos “nossos” leitores. Como não está editado em Portugal, proponho-o para o Clube de Leitura Inglês. Não será certamente uma reunião very british – mas será seguramente very underground. Já agora, em vez de chá, sugiro que se sirva aos membros Bloody Mary.
BURNS, C. – Skin deep: tales of doomed romance. Fantagraphics, 2001. ISBN: 978-1560973900
Serviço de aquisições: sala de lazer – adultos
Caros colegas, está desde Março disponível no mercado mais uma aventura de Blake e Mortimer, personagens de banda desenhada criados por Edgar P. Jacobs em 1946. «O santuário de Gondwana» é o título deste livro escrito por Yves Sente e desenhado por André Juillard e leva os protagonistas a África, ao lago Tanganica, em busca de uma misteriosa civilização com mais de… 350 Milhões de anos, que terá coabitado com os dinossauros. Gondwana é, curiosamente, o nome do super continente do hemisfério sul que resultou da separação da Pangeia (na Laurássia e Gondwana), inutilidades que aprendi graças à leitura forçada de documentação juvenil sobre dinossauros, quase todas as noites. Quanto ao livro, parece-me que proporciona, sobretudo, uma hora lazer bem passada.
SENTE, Y.; JUILLARD, A. – O santuário de Gondwana. Lisboa. Asa, 2008. (As aventuras de Blake e Mortimer). ISBN: 978-989-23-0079-5.
P.s.: O envio de um exemplar para a sala infanto-juvenil também parece adequado, uma vez que muitas crianças, sobretudo a partir dos 10 anos e adolescentes podem ler o livro, contudo a arrumação de um exemplar na sala de adultos é fundamental uma vez que este continua a ser o público-alvo principal.
A magnífica e assombrosa promoção da leitura no Mar Negro?
Ilustração de Masha Krasnova-Shabaeva
A Biblioteca Pública de Odessa acabou de criar um novo espaço de leitura para jovens. Na verdade o espaço parece pouco ambicioso e assemelha-se a uma sala de espera de um vulgar consultório médico, com uma mesinha baixa e rectangular, no centro, decorada com alguns exemplares de revistas recentes.
- Acho inútil, meu caro Vasyl. Creio que não vamos promover leitura nenhuma com esta miserável salinha de espera.
- Aí é que te enganas pobre Mykola. Tu, tal como as elites culturais deste país, CONFUNDES PROMOÇÃO DA LEITURA COM PROMOÇÃO DA LITERATURA. E isso, meu querido Miky, é um erro grosseiro que nos pode sair muito caro a todos.
- Que queres dizer com isso?
- Simplesmente que, ao contrário de vocês, não estou à espera que os jovens desta cidade passem, com o meu trabalho, a gostar de literatura. Tenho perfeita consciência que 98% deles nunca irão apreciar o modernismo de Kobylyanska, o expressionismo de Pidmohylny ou o existencialismo de Viktor Petrov.
- Então que fazemos aqui?
- PROMOVEMOS A LEITURA e não a literatura.
- Como assim?
- Experimenta fazer este exercício Miky. De que gostam os jovens, tens alguma ideia?...
- Sim. Gostam de se divertir. Gostam de praia, gostam de música, gostam de andar por aí…
- E na biblioteca?...
- Bom, na biblioteca só os vejo na sala dos computadores. A jogar jogos e a navegar na Internet.
- Precisamente, Miky. É dos jogos de computador e da internet que eles gostam e sabes como vamos promover hábitos de leitura (NÃO DE LITERATURA, repara!) entre eles? É simples, oferecendo-lhes livros e revistas sobre jogos de computador e internet.
- E para quê?...
- Para que eles ganhem hábitos de leitura, Miky!... Para que sejam destros a ler. Ninguém pode gostar de ler se não conseguir ler depressa. Ninguém pode gostar de ler, se demorar mais de dois minutos à volta de um simples parágrafo perdendo o fio à meada. Entendes isso Miky? É isto que importa, não interessa se gostam de Pushkin ou não.
- O.k. e ainda assim como os vais convencer a ler esses livros e essas revistas, Vasyl?
- É aí que entra a "Salinha de Espera". Como sabes, Miky, a procura dos computadores é sempre maior do que a oferta. Os jovens têm de esperar pela sua vez. Assim, se os mandarmos para a sala de espera e nela colocarmos, como isco, livros e revistas sobre jogos, internet e outros temas que possam despertar interesse como a música, a mangá ou o wrestling pode ser que peguem neles e de facto comecem a ler e sobretudo a gostar, a sentir necessidade de ler, entendes Miky?...
A Biblioteca Pública de Odessa acabou de criar um novo espaço de leitura para jovens. Na verdade o espaço parece pouco ambicioso e assemelha-se a uma sala de espera de um vulgar consultório médico, com uma mesinha baixa e rectangular, no centro, decorada com alguns exemplares de revistas recentes.
- Acho inútil, meu caro Vasyl. Creio que não vamos promover leitura nenhuma com esta miserável salinha de espera.
- Aí é que te enganas pobre Mykola. Tu, tal como as elites culturais deste país, CONFUNDES PROMOÇÃO DA LEITURA COM PROMOÇÃO DA LITERATURA. E isso, meu querido Miky, é um erro grosseiro que nos pode sair muito caro a todos.
- Que queres dizer com isso?
- Simplesmente que, ao contrário de vocês, não estou à espera que os jovens desta cidade passem, com o meu trabalho, a gostar de literatura. Tenho perfeita consciência que 98% deles nunca irão apreciar o modernismo de Kobylyanska, o expressionismo de Pidmohylny ou o existencialismo de Viktor Petrov.
- Então que fazemos aqui?
- PROMOVEMOS A LEITURA e não a literatura.
- Como assim?
- Experimenta fazer este exercício Miky. De que gostam os jovens, tens alguma ideia?...
- Sim. Gostam de se divertir. Gostam de praia, gostam de música, gostam de andar por aí…
- E na biblioteca?...
- Bom, na biblioteca só os vejo na sala dos computadores. A jogar jogos e a navegar na Internet.
- Precisamente, Miky. É dos jogos de computador e da internet que eles gostam e sabes como vamos promover hábitos de leitura (NÃO DE LITERATURA, repara!) entre eles? É simples, oferecendo-lhes livros e revistas sobre jogos de computador e internet.
- E para quê?...
- Para que eles ganhem hábitos de leitura, Miky!... Para que sejam destros a ler. Ninguém pode gostar de ler se não conseguir ler depressa. Ninguém pode gostar de ler, se demorar mais de dois minutos à volta de um simples parágrafo perdendo o fio à meada. Entendes isso Miky? É isto que importa, não interessa se gostam de Pushkin ou não.
- O.k. e ainda assim como os vais convencer a ler esses livros e essas revistas, Vasyl?
- É aí que entra a "Salinha de Espera". Como sabes, Miky, a procura dos computadores é sempre maior do que a oferta. Os jovens têm de esperar pela sua vez. Assim, se os mandarmos para a sala de espera e nela colocarmos, como isco, livros e revistas sobre jogos, internet e outros temas que possam despertar interesse como a música, a mangá ou o wrestling pode ser que peguem neles e de facto comecem a ler e sobretudo a gostar, a sentir necessidade de ler, entendes Miky?...
- Ainda assim para que interessa serem destros a ler se vão desprezar a alta literatura?
- Porque podem ler o que entenderem para o seu belo prazer e SOBRETUDO porque tendo hábitos leitura mais facilmente irão documentar-se sobre o seu trabalho, as suas profissões. Dessa forma serão melhores profissionais, poderão GANHAR MAIS DINHEIRO e trazer riqueza para a grande nação ucraniana. Ou estavas à espera que o país investisse tantos rublos nas bibliotecas sem esperar retorno?...
- Hum, creio que agora estou a ver, mas ainda assim prefiro continuar a exibir-lhes as maravilhas da literatura ucraniana, importas-te, Vasyl?...
- Hum, creio que agora estou a ver, mas ainda assim prefiro continuar a exibir-lhes as maravilhas da literatura ucraniana, importas-te, Vasyl?...
- Wahtever, Miky...