quinta-feira, junho 29, 2006

Biblioteca inspira urbanização no Vale de Santo António


Sob o título «Cultura inspira urbanização no Vale de Santo António» o Diário de Notícias escreve hoje sobre a futura biblioteca municipal de Lisboa projectada por Aires Mateus. Sabendo que este projecto já vem do tempo do João Soares, o bibliotecário anarquista gostaria de ler as vossas opiniões.

Para mais informação consultem também o site das Bibliotecas LX

Um abraço,

quarta-feira, junho 21, 2006

O bibliotecário K

Ilustração Filipe Abranches

Era uma vez o biblioteKário K que querendo saber mais sobre a sua profissão fez um doutoramento no estrangeiro. Era uma vez C, superior hierárquico de K, nomeado pelo partido e com muito medo de subalternos que soubessem mais que ele isolou K numa secretária de vão de escada. K, doutorado e com um vasto potencial de competências técnicas e científicas, ficou sem trabalho e ficou também deprimido. Era uma vez um país P pobre que queria ser competitivo. Nesse país P - os Kapas era sempre punidos e Cês promovidos. Mas não fazia mal porque às três da tarde estavam todos a ver o futebol.
Private post de homenagem a um amigo. Força Zorg!

A bibliopiscina


Ora aí está o que eu dizia!... Uma biblioteca velhinha e com fracas condições de acessibilidade, que mesmo assim consegue atingir um maior número de visitantes que o Estádio Municipal de Leiria.

Fotografia roubada a http://lisdb.blogspot.com/

terça-feira, junho 20, 2006

Banda desenhada e promoção da leitura


Sabiam que em Espanha no tempo de Franco se dizia: «onde está hoje uma BD estará amanhã um LIVRO»? São formas de pensar como esta que destroem a dignidade da banda desenhada enquanto meio de expressão. Que a tornam forçosamente uma arte menor, que serve quanto muito de trampolim para ascender à arte suprema: a literatura. Mas felizmente nem todos pensam assim. Como é óbvio o livro não é uma espécie de escalão mais avançado da banda desenhada. A escrita é apenas uma forma de expressão que pode ser literária, científica ou de simples informação. E a banda desenhada também.
A diferença é que a banda desenhada tem sido esquecida, subestimada ou tratada com a mesma visão que o Generalíssimo tinha, pelas elites culturais contemporâneas. E o mesmo se passa no plano oficial com as políticas nacionais de promoção da leitura que obrigam as crianças e os jovens a ler obras para as quais não se sentem motivados. OS CLÁSSICOS! Acabam não só por falhar a promoção da leitura, como por conseguir espectacularmente a AVERSÃO TOTAL E VITALÍCIA À LITERATURA!
Mas quem escreveu muito bem este mês sobre «A importância da banda desenhada como apoio à literatura infantil e juvenil para a iniciação e fomento da leitura» foi o Jesus Castillo Vidal no site @bsysnet. Não percam!

segunda-feira, junho 19, 2006

Feira Laica


Já tenho dito e volto a repetir. Nas bibliotecas portuguesas as edições independentes e alternativas não existem. São uma miragem, o que é uma grave lacuna. A 4ª Feira Laica que decorre na Bedeteca de Lisboa no próximo fim-de-semana é a MAIOR FEIRA DE FANZINES E EDIÇÕES INDEPENDENTES DE PORTUGAL e constitui uma oportunidade única para as bibliotecas públicas diversificarem a sua oferta documental dirigida sobretudo a públicos mais jovens. Venham. Não percam esta oportunidade de adquirir algo completamente diferente e de assistir ao impensável. Ao espectáculo único e aterrador de ver um bibliotecário anarquista e sua fiel companheira a vender pataniscas vegetarianas e livros usados.

sexta-feira, junho 09, 2006

Cuidado com os advogados nas bibliotecas


Vários advogados irlandeses foram apanhados a roubar livros numa biblioteca jurídica. Alguns livros apareceram mais tarde à venda num alfarrabista de Limerick. Outros nunca mais se viram. Para além do roubo de obras integrais ainda danificaram e mutilaram outros livros, ao que parece para impedir colegas rivais de ter acesso a informação vital para os seus constituintes. Diversos computadores portáteis desta pobre biblioteca, frequentada unicamente por ilustres juristas, também desapareceram misteriosamente. Que os advogados se empenhassem com dedicação ao roubo do nosso património com os seus elevados honorários já todos sabíamos. Que tivessem muitas dificuldades de ordem técnica em cumprir minimamente o seu código deontológico também. Agora que se dediquem directamente ao crime de furto qualificado nas bibliotecas publicas é francamente inovador.

Um brinde à classe e bom fim de semana!
Fonte: http://www.timesonline.co.uk/article/0,,2091-2200345,00.html, via http://crimeinthelibrary.blogspot.com/

terça-feira, junho 06, 2006

O sonho americano

Imagem: Biblioteca de Salt Lake City

Apesar historicamente associados ao modelo neo-liberal de intervenção pública na economia e na sociedade, poucos países na Europa podem comparar a importância das suas bibliotecas face à importância que estas têm nos E.U.A. De facto nos E.U. a Biblioteca Pública tem um peso na sociedade único, sendo responsável por uma considerável disseminação de conhecimento pelos seus cidadãos. Com uma história de 150 anos hoje existem mais de 17.000 bibliotecas públicas com uma oferta documental superior a 760 milhões de livros e 54 milhões de CDs e DVDs. Custam anualmente ao estado federal (1%), aos estados federados e às autarquias (77%) 7,7 biliões de dólares.

Os americanos queixam-se deste “despesismo” nas bibliotecas?

Em regra não. São, na verdade, os maiores clientes, leitores e utilizadores das bibliotecas públicas em todo o mundo. São usadas massivamente, um pouco como os nossos centros comerciais. Em 2001 os norte americanos requisitaram 1,7 biliões de items (livros, CDs, DVDs, jornais, etc.). 6,5 items per capita. No mesmo ano as bibliotecas registaram 1,1 biliões de entradas. 4,3 visitas per capita.

Provavelmente gastam mais dinheiro em bibliotecas do que na Segurança Social e provavelmente não são assim tão estúpidos.
A dúvida no entanto persiste. Como é que lendo tanto votaram no Bush? Um mistério insondável.
Obrigado a todos e um abraço,

quinta-feira, junho 01, 2006

Quando chega a Semana Negra?

Está a chegar a XIX Semana Negra de Gijón de 7 a 16 de Julho.

O que é a Semana Negra? A Semana Negra é uma festa anual que decorre na capital das Astúrias, produzida pelo escritor mexicano Paco Ignacio Taibo II – autor, entre outras coisas, de «O ano em que estivemos em parte nenhuma: a guerrilha africana de Ernesto Che Gueva», Campo de Letras, 1996 e «A quatro mãos», Difel, 1994.

O que se festeja? O pretexto mais remoto será o de celebrar durante uma semana a literatura policial ou a narrativa ao estilo noir, que os espanhóis traduzem descomplexadamente por «narrativa negra». Daí Semana NEGRA! Hoje em dia já engloba outros temas como a ficção científica e estendeu-se também a outros media como o cinema, a banda desenhada e a música.

Qual é a média de assistência? Anualmente a média de visitantes é superior a um milhão de pessoas. É por conseguinte um dos eventos culturais mais importantes de Espanha. A única festa em Portugal onde posso encontrar alguma semelhança será a Festa do Avante por durar vários dias e ter uma oferta cultural eclética. Contudo a Semana Negra não é organizada por nenhum partido político e gira sobretudo à volta da literatura noir.

Quando começou? As hostilidades destes asturianos irredutíveis começaram no verão de 1988 com a primeira edição da Semana Negra e com um enorme esforço, muita dedicação e sorte eleitoral da equipa organizadora não teve até hoje qualquer interrupção.

Outras características? É conhecido por ser um festival «adoravelmente absurdo», que já obteve dois recordes registados no livro Guiness nomeadamente em 1994 com a maior fila de livros (1650 metros) doados pelo público aos leitores cubanos. Para além deste recorde foi também responsável pelo improvável e feroz encontro de ping-pong que opôs a dupla campeã das Astúrias à temível dupla francesa Georges Moustaki (músico) / Jerôme Charyn (argumentista e escritor). E também por uma inaudita cerimónia de entrega de prémios que decorreu no interior duma jaula de tigres de um pequeno circo assistente.

Produção literária? Para além dos diversos encontros, mesas redondas, debates entre autores, editores, realizadores, músicos etc. o festival produz ainda o seu próprio jornal diário «À queima-roupa» durante o festival

Quem por lá passou? Gente de todos os géneros, tamanhos e feitios desde Manu Chao, Célia Cruz ou Los Lobos até Jacques Tardi passando por quase todos os grandes nomes da literatura policial, até ao pequeno atelier da banda desenhada de Beja “A toupeira”. É uma festa igualitária!

Qual o tema deste ano? Sem haver apenas um único tema, este ano assunto principal será a guerra civil espanhola (que começou há 70 anos) abordada através da ficção científica. Convidam-se, assim, os autores e participantes para trabalharem a guerra civil e as suas consequências partindo do pressuposto que os republicanos a venceram. Uma ideia fascinante!

Como ir? Se forem convidados terão o privilégio único de viajar no «Trem Negro» que transporta sobretudo escritores e jornalistas de Madrid para Gijón no primeiro dia da Semana. Caso contrário, podem seguir de carro. Se saírem de Lisboa em direcção a Vilar Formoso seguem a direcção de Salamanca, León e Oviedo. Têm 800 kilometros pela frente (cerca de 8/9 horas de viagem), 15 € de portagem e 75€ de gasolina (mais igual montante para o regresso). De comboio segundo o site da Renfe a viagem dura 9h e podemos sair de Santa Apolónia às 16h01 ou às 01h10 e chegar a Gijón às 00h54 ou 07h35 (com transbordo em Medina del Campo). O preço da viagem fica em cerca de 33€. O regresso estranhamente não se faz pelo mesmo percurso. É via Madrid ou Miranda del Ebro, o preço e duração da viagem ficam um pouco maiores. De autocarro não há directos de Portugal (Lisboa ou Porto) para Gijón, há no entanto a possibilidade de ir via A Corunha (Galiza) ou via Madrid. Nesta modalidade ainda não me confirmaram os preços e duração das viagens. Por último, apesar de Lisboa e Gijón serem cidades portuárias não encontrei ligação via marítima, o que é pena.

Onde ficar: têm aqui um link para os alojamentos mais económicos da Cidade de Gijón. Marquem depressa porque um milhão de pessoas é muita gente.

O que comer? De tudo (excepto se forem vegetarianos). Segundo fontes muito credíveis Gijón é uma cidade com grande tradição gastronómica. Atenção aos preços, pois os restaurantes em Espanha são geralmente demasiado caros para os bolsos lusitanos.

Em breve sairá mais informação sobre o evento, designadamente sobre o programa deste ano.

Saludo fuerte compañeros!

Para acabar de vez com a cultura, as bibliotecas e o futebol

Imagem: Salt Lake City (1) Public Library

Um inquérito realizado pelo CRÉDOC (Centre de Recherche pour l'Étude et l'Observation des Conditions de Vie), para o Ministério da Cultura e Comunicação francês, mostra o sólido desenvolvimento das suas bibliotecas públicas. “Em França, as Bibliotecas Públicas conseguiram um grande desenvolvimento a partir da década de 70”. O inquérito do CRÉDOC realizado no Outono de 2005 para o Ministério da Cultura e Comunicação mostra que 84% dos municípios inquiridos têm oferta de leitura pública. De 1989 a 2005, a parte da população que acorre às Bibliotecas Públicas passou de 23% para 43%, enquanto que no mesmo período a frequência de salas de cinema e de museus permaneceu estável (50% y 33% respectivamente). No seio das Bibliotecas Públicas são as Bibliotecas Municipais aquelas que ocupam o primeiro lugar: 72% dos franceses com mais de 15 anos já tiveram a ocasião de frequentar uma. Apesar do desenvolvimento da Internet, o livro conserva um lugar de primeira linha e o número de leitores não diminuiu. Paralelamente, a multiplicação das mediatecas proporcionou o acesso a colecções mais diversificadas que favorecem novos usos e atraem um público mais amplo. A mediateca municipal tem hoje uma imagem de lugar cultural familiar, em proximidade imediata ao lugar de residência. Se o esforço de modernização das bibliotecas municipais prosseguir a este ritmo, a frequência regular poderá chegar aos 50% dos franceses em 2010, o que permitirá à França superar o seu atraso em relação aos países mais avançados, como a Grã Bretanha e os países escandinavos.

www.credoc.fr/pdf/4p/193.pdf

Este foi o texto enviado em espanhol pela Isabel Sousa.

Quanto às Bibliotecas Portuguesas mesmo velhinhas e com poucos meios, poucos investimentos conseguem ombrear com a afluência aos estádios de futebol dos três maiores clubes (superando largamente a afluência aos estádios dos restantes, dos mais pequenos), sinto apenas que os poderes públicos responsáveis pelas bibliotecas (ministros, secretários e estado e autarcas portugueses) preferem investir enormes quantidades de dinheiro em infra estruturas para acontecimentos efémeros (Capitais da Cultura, Expo 98, Europeu de Futebol, Rock in Rio) do que em infra-estrutura consolidadas, com público garantido, com missão, objectivos e estratégia bem definidas como as bibliotecas. O pior é que nem sequer fizeram um estudo sobre as vantagens eleitorais desses acontecimentos efémeros versus infra-estruturas consolidadas.

(1) Salt Lake City é uma cidade dos EUA (a cidade dos mormons) com uma população de 181.743 habitantes. Será que a sua biblioteca (na foto) foi mais cara que o Estádio do Algarve (33.993.082€)? E ainda dizem que os americanos são burros e os portugueses espertos.


Um abraço,