terça-feira, fevereiro 27, 2007

Serviço de aquisições

«Lone wolf and cub» («O lobo solitário e a cria») é uma fantástica mangá histórica (gegika), dos mesmos autores de Path of the assassin – os mestres Kazuo Koike e Goseki Kojima. Trata-se de mais um épico de samurais em apenas 28 volumes editados pela Dark Horse. No total são 8 700 (oito mil e setecentas) páginas de acção, história, assassinatos em série, poesia e filosofia oriental. Em traços gerais a obra conta-nos a história do formidável guerreiro Oggami Itto um executor (carrasco dos nobres), ou melhor… antigo executor do Shogun, que deambula pelo Japão do século XVI (dinastia Edo) na companhia do seu filho, o bebé Daigoru, a exercer a cruel profissão de assassino profissional. A sua condição de assassino foi a única escolha que lhe restou depois de ter sido falsamente acusado de traição numa farsa arquitectada pelo clã Yagyu, que culminou com a sua condenação ao seppuku (uma espécie de hara kiri destinado aos nobres). Na verdade a um membro proscrito da casta Samurai estavam vedadas actividades como a agricultura, o comércio ou a pesca, assim o exígia a moral confuciana. A estes deserdados de linhagem nobre, guerreiros por natureza, só lhes restava a possibilidade de serem “hired guns”. Oggami Itto recusou, assim, o destino do seppuku (não tinha que o aceitar o suicídio uma vez que fora vítima de uma conspiração), escapou aos que o perseguiam, pegou no pequeno Daigoru e trilhou a estrada da morte, não antes de ter dado a “escolher” ao filho, de apenas um ano, o seu destino através da opção: a espada ou a bola. Se Daigoru escolhesse a bola o pai teria de executar o próprio filho e enviá-lo para o paraíso, para junto de sua mãe (assassinada previamente pelo clã Yagyu), se escolhesse a espada, como veio a acontecer, juntar-se ia a seu pai na estrada do inferno. «Daigoru! Tens de escolher o teu próprio caminho. Escolhe a dotanuki (espada) e junta-te ao teu pai no caminho do inferno. Escolhe a temari (bola) e junta-te à tua mãe em yomi, a terra dos espíritos». O caminho que têm de seguir é um terrível pesadelo repleto de demónios e dominado pela morte, motivo pelo qual o pai preferia matar o próprio filho a levá-lo consigo. Assim não aconteceu. Uma palavra final deve ser didicada à edição americana da Dark Horse cujas capas são ilustradas por Frank Miller, o venerável autor das melhores histórias do Batman ever…

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Hábitos de leitura no Japão VII : epílogo

Ilustração de Jirô Taniguchi

Parto de Ushuaia coberto de alcatrão e penas... Atravesso clandestinamente a fronteira com o Chile e em Punta Arenas apanho um cargueiro que cruza o Pacífico em direcção a noroeste, com escala na ilha de Páscoa. À medida que o navio avança o nevoeiro adensa-se. Dirijo-me agora ao país do sol nascente onde finalmente chego exausto. Dói-me o corpo e sinto a voz embargada. Não deixo de observar, no entanto, este curioso povo que lê histórias aos quadradinhos com abundância. Crianças, adolescentes, executivos, senhoras e idosos. Todos lêem banda desenhada. Os contentores de reciclagem à saída do metro contêm milhões e milhões de livros de mangá. Parece que adquiriram este inusitado hábito de “ler furiosamente” quando eram crianças porque as suas casas eram diminutas e não havia espaço para grandes brincadeiras. Duvido que seja verdade, mas que trabalham e lêem com garra isso é uma constatação inegável. A concorrência, ao que dizem, é forte: na escola, universidade e no trabalho. O estudo e a leitura são levados muito a sério e estas revistinhas de quadradinhos aliviam-lhes a tensão do quotidiano... que por vezes pode ser bastante tenso nestas paragens.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Livro de viagens: a biblioteca pública de Ushuaia


Ushuaia. Capital da terra do fogo. A cidade mais a sul do hemisfério, sendo por isso também conhecida como la ciudad del fin del mundo. O seu porto de águas profundas é o mais próximo da Antártida. O clima, esse é obviamente frio e por isso a vegetação do local é quase exclusivamente composta por tundra. Muitos dos seus 45.000 habitantes descedem de prisioneiros enviados para esta paragem inóspita há mais de cem anos. É o caso de Florentino Arisco, o bibliotecário que hoje, dia 16 de Fevereiro, no pico do verão se encontra à porta do legendário Café Austral a fumar lentamente um puro comprado à minutos na Tabacaria Sarandi, indiferente aos dois graus negativos registados no termómetro da pequena esplanada. O ruído provocado por bandos de petreis prateados que entram na baía, vindos do canal beagle é ensurdecedor, mas nada disso impede Florentino de saborear mais uma passa a pensar na vida, antes de entrar na biblioteca Domingo Faustino Sarmiento que abre a sua porta todos os dias às 10h.

sábado, fevereiro 10, 2007

Livro de viagens: a biblioteca pública de Uummanaq


Uummanaq é uma pequena cidade no noroeste da Gronelândia com uma população maioritariamente de etnia Inuit, que vive sobretudo da pesca e das respectivas fábricas associadas à actividade. Fica situada na ilha (com o mesmo nome) no sopé duma famosa montanha de 1,175 metros em forma de coração. As suas casas de madeira colorida estão espalhadas ao longo dos diversos socalcos. À volta de Uummanaq, numa amplitude de 150 quilómetros existem 7 povoações. A ligação entre a cidade e as referidas terras é efectuada através de dois helicópteros que levantam voo semanalmente. O município dispõe de múltiplos equipamentos sociais entre os quais uma Biblioteca Pública que serve toda a comunidade. A sua colecção tem cerca de 25.000 volumes (livros, vídeos e CD Roms). Abre às segundas (19h - 21h), quartas (15h – 17h), quintas (19h – 21h) e sábados (10h – 14h). Ao longo do ano os seus 2.737 habitantes requisitam 21.000 volumes. O orçamento anual da biblioteca é de 49,759 dólares.
Fonte: Nordic Public Libraries: the nordic cultural sphere and its public libraries. Ed. lit. Jens Thorhauge. Kobenhavn: Danish National Library Authority, 2002. ISBN: 87-91115-14-0

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Breaking news!


Ilustração Marjane Satrapi


Estudantes do sexo feminino de uma madraça em Islamabad (Paquistão) ocuparam a biblioteca pública infantil, como forma de protesto pelo encerramento do seminário islâmico «Jaima Hafsa» onde estudavam. O Gabinete do Presidente já emitiu uma autorização para utilizar A FORÇA, se necessário, de modo a expulsar as ocupantes.

Fonte: Pakistan Link

A bibliotecária chefe, entretanto, já se antecipou à ordem do presidente, tendo expulso duas ocupantes porque fizeram ruído na sala de leitura, três porque foram apanhadas a fumar na casa de banho e outras duas porque tinham empréstimos em atraso.

Bom fim-de-semana e votem carago!

domingo, fevereiro 04, 2007

Hábitos de leitura no Japão VI: 1945-1955

Ilustração retirada da série de animé «Read or die»

No periodo pós guerra os japosenes trocaram a mentalidade de conquista territorial militar, pela mentalidade de conquista económica. As forças armadas foram desmanteladas e a nobreza (guerreira, por natureza) foi abolida, com a excepção do imperador que se manteve como figura simbólica do novo regime constitucional. Como os japoneses prezam o esforço e a disciplina como valores morais superiores, concentraram-se na única tarefa que os americanos (potência ocupante) lhes permitiu realizar. O trabalho. Esta concentração no trabalho abriu as portas a jovens ambiciosos que transferiram a mentalidade militar para a organização das suas empresas emergentes. Procuraram então todas as formas possíveis para motivar e aumentar o interesse dos operários, técnicos e executivos pelo seu trabalho e pelo desempenho da empresa. A luta de classes era menos visível no Japão do que no ocidente e a integração de todos os trabalhadores com o destino da empresa mais forte. A ligação à empresa era vista como uma extensão da ligação familiar. Quando os negócios corriam bem, havia mais dinheiro e todos beneficiavam. Quando os negócios corriam mal todos tinham de fazer sacrifícios. Era normal que todos os trabalhadores (desde o mais modesto operário ao mais ilustre executivo) dessem contributos positivos e atendíveis para melhorar as condições de trabalho, o ambiente, o processo industrial e o aumento da produtividade. Nos anos 50 era normal que na maioria das empresas, todas as manhãs antes do inicio do dia de trabalho, o conjunto dos trabalhadores, funcionários, técnicos, executivos e administradores se juntarem para hastear a bandeira da empresa, cantar o seu hino e executar alguns exercícios físicos em conjunto (mentalidade militar). Esta dedicação ao trabalho não foi contudo isolada. Não foi circunscrita às meras rotinas laborais levadas até à exaustão. Nesta época e ao longo dos anos sessenta os japoneses dedicaram-se massivamente ao ESTUDO. O número de estudantes a frequentar a universidade explodiu e partiram delegações de emissários em direcção a todas as partes do mundo em busca de INFORMAÇÃO CIENTÍFICA, para ser posteriormente analisada à lupa. Só em 1967 os japoneses “dissecaram” 6 MILHÕES DE LIVROS CIENTÍFICOS ESTRANGEIROS. A maior parte deles sobre tecnologia. Aqui e ali sempre era possível encontrar novas observações ao conhecimento científico que podiam acrescentar...

To be continued

Fonte: LUYTEN, S. - Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. 2ª ed. São Paulo : Hedra, 2000.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Hábitos de leitura no Japão V : homens


Ilustração retirada de «Lone wolf and cub» de Kazuo Koike e Goseki Kojima

Lêm SEINEN MANGÁ - 青年- (não confundir com o mais específico “seinen?” - 成年 – que se refere à banda desenhada pornográfica). Este tipo de banda desenhada tem como público-alvo os adultos do sexo masculino entre os 18 e os 30 anos de idade, se bem que em certos casos a audiência pode ir até pessoas com mais de 30 e 40 anos de idade. É muito consumida por executivos e ao contrário da shonen e da shojo mangá esta comporta uma grande variedade de géneros, assuntos e estilos (art styles) que vão desde o avant garde ao pornográfico. Quando lemos uma banda desenhada japonesa um dos truques utilizados para ver se a BD é dirigida a adolescentes ou a públicos mais amadurecidos consiste em verificar se nas legendas (nos balões) os caracteres simples de ajuda à leitura (furigana) são utilizados ao lado do texto original em kanji. A ausência de furigana indica que a banda desenhada se dirige a um público maduro. Não existe uma grande variedade de mangá traduzida ou editada em Portugal. A pouca mangá que encontramos nas lojas especializadas ou nas grandes superfícies como a FNAC são sobretudo edições americanas e francesas (e eventualmente espanholas). São boas edições, em que a leitura se processa curiosamente da direita para a esquerda, como no Japão. Dos livros que podemos encontrar a grande maioria é, sem dúvida, seinen mangá.

Fonte Wikipédia

Bom fim-de-semana