sexta-feira, dezembro 28, 2007

A depressão de Nicolae Andrescu, o bibliotecário dos Cárpatos


Ilustração de Brian Cronin

Nicolae Alexandru manifesta-se preocupado. Tem a missão de animar duas comunidades de leitores no obsoleto Sistema de Bibliotecas da Valáquia e nem sabe bem o que são comunidades de leitores. «Grupos de pessoas que se encontram deliberadamente para falar sobre um livro que estiveram a ler ao mesmo tempo? Para quê?... Afinal não é a leitura um dos maiores prazeres que se pode tirar da solidão?... Não é uma coisa íntima?... Alguém me explica esta moda?... E vamos falar sobre o quê?... Quem é que fala?... Quantos podem entrar? Come-se?... Bebe-se?... Quem escolhe os livros?... Oh não! Será que as mulheres também vão escolher livros?... Pelas barbas de Belzebu!... Estarei condenado a ler todos os livros de auto ajuda da Oprah até ao fim dos meus dias?... Não!... NÃO!.... NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!!...»

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Santas leituras de Natal

Boas notícias para os ateus! O livro «The God delusion» de Richard Dawkins, traduzido para português como «A desilusão de Deus», já vendeu mais de um milhão de exemplares em Inglaterra e ao nível das vendas só é batido pelo eterno Harry Potter. Parece que “o ateísmo vende”, segundo a Times Online, e os cristãos já andam um bocado deprimidos com isso.

Um bom livro, por conseguinte, para as Férias de Natal. Boas leituras e uma Santa Quadra Natalícia.

DAWKIN, R. – A desilusão de Deus. Lisboa: Casa das Letras, 2007. ISBN: 978-972-4617589.

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Clube de leitura teen


É o Harry Potter da BD na Europa e nos E.U.A. De França a Espanha e Itália, dos EUA ao Canadá arrasa tudo o que é top de vendas. Jogos de vídeo, bonecos e diversos brinquedos de merchandising vendem-se também como cogumelos em seu redor. Em Portugal é um fenómeno sobretudo ligado à Internet (em que os adolescentes urbanos oriundos da classe média, fazem intensos downloads), às lojas de brinquedos e, residualmente, às livrarias especializadas em banda desenhada de importação.

Contudo num rasgo de ousadia tremenda as Bibliotecas Municipais de Lisboa preparam-se para trabalhar a leitura de super heróis e de shonen mangá com um grupo de teenagers num bairro social de Lisboa.

São seus objectivos: promover hábitos de leitura lúdica e, em simultâneo, garantir que o dinamizador não leve, digamos, “porrada”.

É sua estratégia, para cativar a presença de jovens leitores, melhorar as notas nas aulas de inglês e português.

Interessa ao dinamizador deste grupo: verificar se a BD de super heróis e mangá (geralmente vista como médium destinado a rapazes brancos da classe média urbana) podem interessar a filhos e netos de emigrantes dos países africanos (no Bairro Padre Cruz, Biblioteca Municipal Natália Correia).

Estamos firmemente convencido que com esta iniciativa o bibliotecário anarquista poderá finalmente receber o prémio “Library Services for Poor People – Asshole Award of the Year”.

A leitura e o visionamento de DVDs do Naruto (em inglês) estarão seguramente presentes desde as primeiras sessões.

KISHIMOTO, Masashi – Naruto, 1. [S.l.]: Viz Media, 2003. ISBN: 978-156931900

Um feliz solistício pagão, cheio de bolo rei e de deliciosas rabanadas, nham, nham…

Pena não haver em português

Um excelente livro. Uma banda desenhada de intenso calibre político e humanitário. Tão boa que seria impensável publicá-la em Portugal. Uma sólida narrativa gráfica dedicada aos aspectos mais negativos da globalização liberal, com magníficas abordagens históricas sobre a conquista europeia da América latina e o branqueamento dos genocídios perpetrados pelos conquistadores ao longo dos séculos. Comparações geniais com uma eventual vitória Nazi na 2ª Guerra Mundial que conduziria também ao branqueamento, democratização e humanização do Holocausto e que serviria inclusive para fazer belos postais sobre o modo de produção do sabonete em Aushwitz – tal como a conquista da América serve para fazer belos postais sobre a fabricação do chocolate. Um autor, Philippe Squarzoni, a não perder de vista e que pode ser o Noam Chomsky da livraria de BD mais perto de si.

SQUARZONI, Philipe – Garduno, en temps de paix. Albi: Requins Marteux, 2002. ISBN: 2-909590-75-5

Serviço de aquisições

Uma leitura cativante. Começamos a ler e só paramos no fim. A sorte é que tratando-se de uma BD ao fim de uma hora a leitura está consumada. Eis o primeiro álbum ao estilo francês (capa dura e grande formato) de Rui Lacas que nos conta a história de uma senhora idosa e solitária, provavelmente nos anos 70/80 lá para os lados da Zambujeira do Mar, que todos os dias pede ao “seu patrão”uma moeda em nome da sua defunta filha. Um dia uma menina pergunta à senhora quem é a sua filha e a narrativa faz um “flash back” ao passado para contar a história da filha, Anita, uma adolescente bonita e inteligente que vive com a sua mãe no campo. O pai faleceu e as duas vivem na propriedade do “patrão” por especial favor. Até ao dia em que o “Patrão” diz que está na hora da Anita começar a trabalhar e deixar a escola… Aqui entramos na parte mais intensa da narrativa que culmina com uma surpreendente vendetta poética digna de Hollywood.

Apesar de tudo parece-nos que este ano não foi assim tão mau para a edição de BD portuguesa.

LACAS, Rui – Obrigada Patrão. Porto: Asa, 2007. ISBN: 978-972-41-5309-4

Breaking news: «Blind monk named George IFLA annual award»

IFLA / UNESCO cria prémio anual denominado “Monge Cego Chamado Jorge” a atribuir ao melhor bibliotecário que consiga desenvolver vasto trabalho na área dos sistemas complexos que regulamentam o acesso à leitura promovendo, desse modo, a NÃO LEITURA. «O nosso modelo é o daquela grandiosa biblioteca medieval situada numa abadia no norte de Itália, que não nos conseguimos lembrar do nome, coordenada pelo venerável monge chamado Jorge. Uma biblioteca com muitos documentos e poucos utilizadores. Pelo menos poucos utilizadores vivos», declarou demencialmente uma pessoa muito importante da IFLA ao nosso blogue.

Entretanto em Lisboa, o bibliotecário anarquista manifestou-se muito animado com a instituição deste novo galardão ao qual pretende candidatar-se de imediato. “Já que com o Prémio Raul Proença não me safo, aqui sempre tenho alguma hipotesesinha”, disse o pseudo-anarca, com elevada dose optimismo e... marijuana, a este inqualificável blogue.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Serviço de aquisições


Uma belíssima surpresa esta banda desenhada, que faz um relato biográfico da escalada ao Evereste pelo mediático João Garcia e pelo seu amigo Pascal. Uma descrição de breves momentos da infância do alpinista no bairro lisboeta dos Olivais com uma feliz elipse para os Himalaias. Uma agradável homenagem (com estilo, sem cair na pieguice) ao malogrado Pascal que acabou por falecer na descida. Um abraço aos autores Ricardo Cabral (desenho e argumento) e João Garcia (autor da obra adaptada) pela distinta leitura que me concederam.

CABRAL, Ricardo; GARCIA, João – Evereste. Porto: Asa, 2007. ISBN: 978-972-41-535-7
Sugestão: Bom material para comunidades de leitores

terça-feira, dezembro 11, 2007

Bibliotecários de referência criam “braço armado” contra “Yahoo! Answers”

Bibliotecários de todo mundo organizaram uma rede clandestina com o objectivo de lutar contra aquilo a que já designaram como o “Novo Serviço de Referência Imperialista”. A luta desenvolve-se através de acções militares e de sabotagem, bem como através da denúncia pública de todos os que colaboram (colaboracionistas) com esta infame “Referência do Mal”. Neste sentido, em Novembro, grupos de biblio maquis já dinamitaram duas linhas Internet de alta velocidade em Silicon Valley, e no Idaho foi rapado o cabelo a uma menina de sete anos por ter perguntado ao Yahoo quantos planetas existem no sistema solar?

Vive La Resistance!

domingo, dezembro 09, 2007

Observatório para a Promoção de Leitura de Banda Desenhada na Cidade de Lisboa

No ano de 2007 (até ao dia 1 de Dezembro) as Bibliotecas Municipais de Lisboa emprestaram gratuitamente 4.218 (quatro mil duzentos e dezoito) exemplares de banda desenhada aos cidadãos de Lisboa. Para uma população de 500.000 habitantes é ainda um número reduzido.

A distribuição do empréstimo pelas diferentes BML é a seguinte:

Entretanto já se estabeleceu como objectivo para 2008 ultrapassar os 9.000 (nove mil) exemplares emprestados, repartido da seguinte forma pelas diferentes bibliotecas:
Um objectivo ambicioso. Na Bedeteca já se afiam as baionetas para esta gloriosa "campanha" e eu declarei publicamente que deixo crescer um farto bigode e me torno treinador de futebol, caso tal não se verifique.

Saudações anarcas a todos e um Feliz Naga Panchami

Serviço de aquisições


Um belo livro de ilustrações de um desconhecido pintor e dramaturgo alemão que intercala fortíssimas imagens de temas contemporâneos (guerra, pena de morte, fome, imigração, escravatura sexual, desastres naturais, etc.) com expressivas ilustrações eróticas. Há algo de Guernica (a famosa pintura de Picasso) nestas ilustrações e há algo de minhoto (região do noroeste português e sudoeste galego) em Max Tilmann.

Arrumar na secção de adultos – livros de arte em destaque.

Feliz Natal e para a comunidade Sikh (que pode encontrar nas bibliotecas portuguesas uma vasta oferta documental que em nada serve as suas necessidades de informação e lazer - em flagrante violação das mais elementares disposições da UNESCO) feliz Guru Nanak Jayanti.

Tilmann, Max, pseud. – Já não há maçãs no paraíso. Lisboa: Mmmnnnrrrg, 2007. ISBN: 978-972-98527-5-6

Serviço de aquisições


Estamos nos anos 20. Notre Dame des Lacs é uma aldeia perdida no gélido Quebec rural. Uma aldeia onde os homens saudáveis desaparecem ciclicamente durante longos períodos para ir cortar madeira à floresta. Uma aldeia pequena, amargurada e muito distante da cidade que vê a sua rotina, onde nada acontece, bruscamente interrompida pela chegada de um jovem forasteiro cosmopolita que viveu vários anos em Paris. O forasteiro fica hospedado por uns dias em casa da jovem viúva Marie Ducharme, mas vai ficando. Ocupa o armazém central do falecido marido, abre um restaurante, encanta a aldeia e vai deixando a viúva cada vez mais seduzida.
Trata-se do primeiro álbum de uma trilogia dos autores Regis Loisel (autor das bandas desenhadas “Peter Pan” e “Em busca do pássaro do tempo”) e do estreante em Portugal Jean Louis Tripp.


Recomendamos a arumação na secção de ficção adultos em destaque, ou difusão activa, ou face out, ou o que quiserem desde que virem a capa (e não a lombda) para fora.


Abraço e feliz Ramadão,


LOISEL, Regis; TRIPP, Jean Louis – Armazém Central. Porto: Asa, 2007. ISBN: 978-972-41-5203-5

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Pena não haver em português

«O meu nome é Sócrates e eu não sou apenas um cão. Sou o cão de Hércules. O meu mestre é filho de Zeus. É um semi-deus. E eu sou o filho do cão de Zeus. Sou um semi-cão. Metade cão e metade filósofo. A minha filosofia consiste em não fazer nada. Quando tenho fome como; quando tenho sono durmo. Sigo o meu mestre onde quer que vá, o que me evita o esforço de tomar decisões. Sei que o meu comportamento se parece muito com o de um cão normal. Contudo eu consigo falar. Tenho o dom da palavra. E mais. Também sei ler, o que não acontece com o meu mestre…»

Uma deliciosa banda desenhada de Sfar e Blain, introduzindo-nos com humor à filosofia através de Sócrates (o cão), ao sexo e à pancadaria através de Hércules (o bruto).

Sfar; Blain - Héracles: socrate le demi-chien. Paris: Dargaud, 2002.

O bibliotecário de Musil

Ilustração de Pepedelrey
Robert Musil – Caro anarquista. A ciência bibliotecária é uma ciência por si só, sabia?
Bibliotecário Anarquista – Sim é verdade. Ainda não chegaram a um acordo sobre a designação, mas pode tratá-la por «Bibliotecas e Ciências da Informação».
Robert Musil – E quantos sistemas pensa que existem, caro Anarquista, para guardar e conservar os livros?
Bibliotecário Anarquista – Para guardar, não sei. Depende de biblioteca para biblioteca. Mas em Portugal são muito populares os sistemas baseados na Classificação Decimal Universal e na Lista de Cabeçalhos por Assunto. Quanto à preservação e conservação, isso não me interessa. Sou um bibliotecário público e estou mais preocupado com a quantidade de documentos emprestados. Chamamos a isso PROMOÇÃO DA LEITURA, e deixamos a preservação e conservação para os nossos colegas da Biblioteca Nacional. Mais a mais se os livros estiverem muito conservados é porque não foram lidos, logo falhei, e cubro-me de desonra. A propósito! Sabia, caro Musil, que nas bibliotecas públicas o conforto das pessoas e o marketing de novidades é muito mais importante que a preservação e a conservação? Sabia que esta se deve limitar ao fundo local? Aos documentos que preservem a memória da cidade, sabia?
Robert Musil – Não bibliotecário anarquista. Não sabia e não entendo nada do que diz. Acho que o senhor é manifestamente excessivo.
Bibliotecário Anarquista – E eu acho que o senhor Musil não entende nada de leitura pública. Parece que vem do século XIX.
Robert Musil – E venho! Nasci em Novembro de 1880 em Klagenfurt.
Bibliotecário Anarquista – Então a Biblioteca de Klagenfurt é uma choldra e não me admira que o chanceler do bigodinho tenha nascido no seu país. E mais informo que a Biblioteca de Harford, no Connecticut, já tem a Hora do Conto desde 1882.
Robert Musil – Du Arschloch!
Biblioecário Anarquista – O quê?

Variações palermas em torno de «Der Mann ohne Eigenschaften» [isto é só para armar, pois não sei uma palavra de alemão e nunca li Musil].

Clube de leitura teen


A primeira biografia em BD de Vlad III o empalador (1431-1476), Voivoda (Príncipe) da Valáquia que inspirou Bram Stoker para o seu famoso personagem Drácula.

A BD de Hermann relata a vida de Vlad III desde a sua infância até à morte. As guerras, alianças e traições com os húngaros (católicos) e com os turcos (muçulmanos). Narra, também, a propensão deste monarca para empalar todos aqueles que considerava traidores (é claro que o conceito de traição incluía vilas e cidades inteiras).

Por curiosidade, fiquei a saber que o nome Drácula vem de dracul (dragão). O seu pai (Vlad II) foi ordenado Cavaleiro da Ordem do Dragão e assim passou a intitular-se Vlad Dracul. O seu filho ficou conhecido como Draculea que significa precisamente filho do dragão.


Hermann – Vlad, o empalador. Lisboa: Vitamina BD, 2006. ISBN: 8573232560

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Crachá para professores intrépidos, documentalistas audazes e mad librarians em geral

domingo, dezembro 02, 2007

Clube de leitura teen


A que distância pode um samurai viajar por amor? Quantas batalhas, será ele capaz de enfrentar? Atravessará o céu e a terra para rever a mulher que ama?

Publicado pela Vitamina BD este livro conta-nos a história de Asukai Shiro um Samurai Japonês que após uma contenda contra um senhor de guerra chinês vê a sua amada Yoshiko raptada e vendida a um mercador de escravos árabe, pelo que o nosso Samurai é obrigado a atravessar o mundo em sua procura. Neste primeiro volume, a aventura desenrola-se no início do séc. XVIII e conduz o herói do Japão medieval à corte de Luís XIV em Paris.

MARZ, Ron; ROSS, Luke – Samurai. Lisboa: Vitamina BD, 2007. ISBN: 978-84-8357-084-5