sexta-feira, dezembro 29, 2006
Como sabem, é politicamente correcto as bibliotecas não terem utilizadores que cheiram mal. Têm, quanto muito, clientes que sofrem de patologia odorífica crónica. Para além destes existem por vezes alguns casos especiais. Como o caso do jovem que pratica a ventosidade anal reiterada (flatulencius analis) resultante da decomposição de resíduos orgânicos no seu intestino, combinada com a arte da fuga (muito veloz) e abandono das vítimas na sala de leitura. Foi o que aconteceu ontem de politicamente correcto no meu local de trabalho, de tal forma que tivemos de abrir todas as janelas… arf… arf…
Happy new year!
quinta-feira, dezembro 28, 2006
O insondável enigma de Teodósio Letrinhas: um diligente bibliotecário de Lisboa
Ilustração de Gonçalo Pena
Desde o final da primavera que todos os meses, na última quinta-feira, o bibliotecário Teodósio Letrinhas, senta-se à mesa para jantar e comunica à família num tom grave: «Lamento, mas a partir do próximo mês não tenho outra opção senão trabalhar aos sábados. São ordes!...», diz Teodósio, seguro e assertivo. Contudo mês após mês este terrível vaticínio não se cumpre. Teodósio regressa a casa todas as sextas-feiras e não sai para o trabalho no sábado seguinte. Um folhetim que já vai para seis meses. Deolinda, a fiel esposa de Teodósio anda triste e desconfiada. Acha-se cada vez mais gorda e está convencida que o seu marido, uma pessoa por natureza cumpridora e zelosa tanto no trabalho como nas obrigações familiares, tem um caso amoroso em projecto que nunca mais se consuma.
sexta-feira, dezembro 22, 2006
Biblioteca José Saramago: a verdadeira em Lanzarote
José Saramago e Pilar del Rio estabeleceram um protocolo de cooperação com a Universidade de Granada para que esta catalogasse, classificasse e indexasse a Biblioteca do prémio Nobel lusitano da literatura. Em contrapartida Saramago e Pilar comprometeram-se a abrir as portas da biblioteca ao público. A ideia parecia simpática, mas, segundo Pilar, os problemas começaram a surgir logo na primeira semana. «É verdade!» disse Pilar ao anarquista. «Logo no primeiro dia às 9h da manhã a casa encheu-se de reformados de Lanzarote à procura de jornais. Ficaram até à hora do almoço e até na cozinha havia velhinhos a ler o “El País” e “La Marca”. À tarde vieram montões de adolescentes que fizeram bicha para consultar a Internet no computador do José. Desentenderam-se e foi o caos. O José até ficou transtornado sobretudo quando partiram a estatueta do poeta que estava em cima da secretária. Mais tarde, quando saíram ainda insistimos para que levassem emprestados os livros preferidos do José, mas não quiseram. Levaram apenas a colecção completa de DVDs do Chuck Norris e do Bruce Lee do meu cunhado. No sábado à tarde a casa encheu-se de famílias inteiras que estavam à espera que o Saramago lesse aos meninos a «Branca de Neve e os Sete Anões». Mas se fosse só isto até continuávamos o projecto, o problema é que acabámos de receber uma carta de um tal professor Marcelo de Celorico de Basto que está a remodelar a casa e se quer desfazer dos seus livros, revistas, e colecções de cromos e que já vem tudo a caminho de Lanzarote via DHL. Não sabemos mais o que fazer! Estamos desesperados e precisamos de ajuda!...»
Feliz Natal, santo Hanucah e próspero Ramadão são os votos do vosso bibliotecário,
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Catalogadores à beira de um ataque de nervos
Ilustração Paulo Buchinho
O extraordinário e improvável diálogo entre uma equipa de catalogadores obsessivos e um autor de fanzines:
Catalogador 1 – Olá! Estou a catalogar este fanzine. És o autor?
Fanzinista – Não sou o editor.
C 2 – Ah!... Bom, mas aqui diz que é uma edição da «Oregãos com Mozzarela»
Fanzinista – Sim. Da Associação Oregãos com Mozzarella da qual eu sou o presidente.
C 3 – Ah!... Então posso te colocar a ti como ed. literário entre parêntises rectos e a «Oregãos com Mozzarela» como publicação?
F – Se tu o dizes…
C 1 – E já agora… «Moldura e camiseiro popular # 400» é a colecção do Fanzine?
F – Não! É o título!
C 2 – Mas aqui na base de dados aparece como colecção?...
F – Isso é problema vosso. Vocês é que inventaram essas regras…
C 3 – Pronto. O.k!... 400 é o número do fanzine, presumo?
F – Não. Esse fanzine é o número 40.
C 2– Q U A R E N T A ! ?... Mas aqui aparece 400
F – Pois aparece!
C 1– Porquê???
F - Porque me apeteceu!
C 3 – PORQUE TE APETECEU?... Como assim?...
F – Para vos chatear. A vocês e a outros gajos chatos iguais a vocês!...
O extraordinário e improvável diálogo entre uma equipa de catalogadores obsessivos e um autor de fanzines:
Catalogador 1 – Olá! Estou a catalogar este fanzine. És o autor?
Fanzinista – Não sou o editor.
C 2 – Ah!... Bom, mas aqui diz que é uma edição da «Oregãos com Mozzarela»
Fanzinista – Sim. Da Associação Oregãos com Mozzarella da qual eu sou o presidente.
C 3 – Ah!... Então posso te colocar a ti como ed. literário entre parêntises rectos e a «Oregãos com Mozzarela» como publicação?
F – Se tu o dizes…
C 1 – E já agora… «Moldura e camiseiro popular # 400» é a colecção do Fanzine?
F – Não! É o título!
C 2 – Mas aqui na base de dados aparece como colecção?...
F – Isso é problema vosso. Vocês é que inventaram essas regras…
C 3 – Pronto. O.k!... 400 é o número do fanzine, presumo?
F – Não. Esse fanzine é o número 40.
C 2– Q U A R E N T A ! ?... Mas aqui aparece 400
F – Pois aparece!
C 1– Porquê???
F - Porque me apeteceu!
C 3 – PORQUE TE APETECEU?... Como assim?...
F – Para vos chatear. A vocês e a outros gajos chatos iguais a vocês!...
A partir daqui os catalogadores abandonaram a biblioteca num deplorável estado catatónico e deram de caras à saída com o Edward Gorey que vinha a precisamente entrar …
quarta-feira, dezembro 20, 2006
segunda-feira, dezembro 18, 2006
A quinta feira laica
No fim-de-semana o bibliotecário anarquista foi requisitado para trabalhar na V feira laica em regime de voluntariado. Lá me apresentei, com a habitual farda de betinho retardado (para contrastar), e afundei-me no confortável sofá a ler fanzines, banda desenhada, ouvir música “anti-elevador” (dada a minha condição de beto apenas consegui identificar os w i l c o, flamming lips, talking heads e o fantástico Peter Sellers a cantar «she loves you, yeah, yeah, yeah» com sotaque alemão) e falar com o pessoal, sobretudo compradores.
A Feira Laica é, na minha insignificante opinião, uma espécie de centro cultural, artístico & comercial alternativo. Digo comercial porque a venda dos trabalhos (música, livros, fanzines, artesantato, comes e bebes vegetarianos e desenhos originais) era um dos objectivos. E digo comercial alternativo porque felizmente fazia lembrar mais os mercados de Camden Town e Portobello Road (Londres) – em pequeníssima escala (quase claustrofóbica, eu diria) – do que os novos templos do império consumista, vulgo Shopping Centres, do engenheiro Belmiro.
A minha missão era vender livros em segunda mão e confesso que não correu mal, sobretudo no sábado. Alguns diálogos foram bastante idiotas e, por isso, dignos de registo:
I – Diálogo do bibliotecário vendedor com uma rapariga compradora
Rapariga – Mas vocês estão a vender livros, CDs e DVDs a este preço [um euro]?...Porquê, porquê?...
Bibliotecário – Bom! Não sei… Mas acho que as pessoas se querem desfazer das suas colecções. Se calhar ocupam muito espaço lá em casa…
R – Mas porquê?...
B – ehh… muito espaço, está a ver?… significa que tem custos… custos de armazenamento, acho eu…
R – Sim, mas um euro porquê?
B [e vendedor esclarecido] – erghh… não sei, mas deixa cá ver… este livro é do JF… quer que eu lhe pergunte?...
II – As fabulosas técnicas de marketing do Marcos Farrajota
Compradora – Vocês estão a vender este livro da Isabel Allende a um euro?
B – Sim.
C – Têm a certeza?...
Marcos Farrajota [editor de fanzines que entretanto se aproximou] – É claro! A Isabell Allende É UMA MERDA! Se pudéssemos vendíamos a um cêntimo.
B – [o bibliotecário monga impressionado com as técnicas de marketing inovadoras do Marcos, esboçou um sorriso amarelo para a compradora e disse] – eeehhh!…
C – Têm mais?... [replicou, por seu turno, a compradora com grande confiança]
A Feira Laica é, na minha insignificante opinião, uma espécie de centro cultural, artístico & comercial alternativo. Digo comercial porque a venda dos trabalhos (música, livros, fanzines, artesantato, comes e bebes vegetarianos e desenhos originais) era um dos objectivos. E digo comercial alternativo porque felizmente fazia lembrar mais os mercados de Camden Town e Portobello Road (Londres) – em pequeníssima escala (quase claustrofóbica, eu diria) – do que os novos templos do império consumista, vulgo Shopping Centres, do engenheiro Belmiro.
A minha missão era vender livros em segunda mão e confesso que não correu mal, sobretudo no sábado. Alguns diálogos foram bastante idiotas e, por isso, dignos de registo:
I – Diálogo do bibliotecário vendedor com uma rapariga compradora
Rapariga – Mas vocês estão a vender livros, CDs e DVDs a este preço [um euro]?...Porquê, porquê?...
Bibliotecário – Bom! Não sei… Mas acho que as pessoas se querem desfazer das suas colecções. Se calhar ocupam muito espaço lá em casa…
R – Mas porquê?...
B – ehh… muito espaço, está a ver?… significa que tem custos… custos de armazenamento, acho eu…
R – Sim, mas um euro porquê?
B [e vendedor esclarecido] – erghh… não sei, mas deixa cá ver… este livro é do JF… quer que eu lhe pergunte?...
II – As fabulosas técnicas de marketing do Marcos Farrajota
Compradora – Vocês estão a vender este livro da Isabel Allende a um euro?
B – Sim.
C – Têm a certeza?...
Marcos Farrajota [editor de fanzines que entretanto se aproximou] – É claro! A Isabell Allende É UMA MERDA! Se pudéssemos vendíamos a um cêntimo.
B – [o bibliotecário monga impressionado com as técnicas de marketing inovadoras do Marcos, esboçou um sorriso amarelo para a compradora e disse] – eeehhh!…
C – Têm mais?... [replicou, por seu turno, a compradora com grande confiança]
Foi assim a feira laica. Para o ano há mais.
domingo, dezembro 17, 2006
Bibliotecas, bibliotecários e pequenos Einsteins
Ilustrção de Jim Haynes Lance, Welborn e Hamilton-Pennel descobriram em 1993 que os estudantes norte americanos com melhores desempenhos nos exames finais (federais) vinham precisamente das escolas com melhores bibliotecas. Bibliotecas que dispunham das melhores colecções e tinham um maior número bibliotecários e técnicos profissionais ao seu serviço. Para além disso, os estudantes com melhores performances académicas referiram também que os centros de recursos (bibliotecas) e os bibliotecários que neles trabalham, desempenharam um papel fundamental para a obtenção desses resultados. Fonte: RUBIN, Richard E – Foundations of library and information science. New York : Neal-Schuman, 2004. ISBN: 1-55570-518-9. Pp. 395. |
Serviço de aquisições
Ora aí está um bom livro para promover a leitura entre os teenagers inconscientes que não se aventuram a saír das salas multimedia e da internet. «Wolverine: saudade» é uma curiosa aventura de um dos mais populares super heróis da Marvel vivida no Brasil. Não no Brasil idílico das praias, do carnaval, das garotas de ipanema, do turismo ou da bossa nova, mas no Brasil da violência, das favelas, da pobreza, da Serra Pelada, dos meninos de rua e dos esquadrões da morte. Trata-se pois de uma aventura de super heróis que foge aos canones habituais deste tipo de histórias em banda desenhada, povoado por grandes metrópoles norte americanas ou por ambientes de ficção científica, para entrar num surpreendente mundo novo. O terceiro mundo do planeta terra. No caso um terceiro mundo que nos é especialmente familiar... A este facto não será alheia a circunstância do livro se enquadrar num projecto europeu - “Marvel transatlântico” - liderado pela Panini italiana, que se propõe recriar histórias originais de super heroís da Marvel com autores europeus, tradicionalmente mais sensíveis e prontos a abordar, sem o recurso a grandes metáforas de ficção científica, a dura realidade social. Os autores confessaram-se também inspirados por filmes como “A cidade de Deus”. Filmes que mostram realidade crua da sociedade brasileira. Morvan e Buchet são autores franceses que em Portugal já têm editado (também pela Vitamina BD) a série Senda. |
terça-feira, dezembro 12, 2006
Serviço de aquisições
«Alguns meses em Amélie» conta-nos a história, ao estilo autobiográfico, de Aloys Clark um escritor que aos cinquenta anos tem de enfrentar a mãe de todos os dilemas literários: o pesadelo de não ter mais nada para escrever. Encontra-se, pois, numa fase de depressão em que é totalmente incapaz de redigir uma linha que seja, ganhando a vida a percorrer, contrariado, bibliotecas e universidades para fazer comunicações. Um dia descobre acidentalmente em casa um livro misterioso de um autor desconhecido. Lê-o com fascínio e resolve seguir a pista do misterioso autor…
segunda-feira, dezembro 11, 2006
O sonho consumista do bibliotecário anarquista
Nesta quadra natalícia e como bibliotecário devo confessar que existe uma grave lacuna no meu curriculum que me deixa infinitamente triste. Essa lacuna consiste no facto de nunca ter experimentado uma das mais épicas sensações que o bibliotecário poderá alguma vez sentir e que consiste na nobre e difícil tarefa de entrar numa grande superfície de livros, CDs e DVDs com um cheque avultado e comprar tudo aquilo que lhe apetecer para a biblioteca. Melhor! Tudo aquilo que os clientes da biblioteca querem e precisam. À partida parece ser tão bom como entrar no Häagen Dazs e comer tudo à borla… mas só mesmo experimentando. Assim, caros colegas, se precisarem de um serviço de aquisições externo manifesto (aqui) publicamente a minha inteira disponibilidade em regime pro buono ou de voluntariado, para suprir o vosso pesado fardo.
Atenciosamente,
Atenciosamente,
Esquilo borgiano foge para a biblioteca e provoca despedimento
Ilustração de Michel Plessix
Depois de ter trazido um esquilo doméstico para o trabalho, o insólito aconteceu (se bem que trazer um esquilo para a biblioteca já é por si suficientemente insólito) em Michigan City (Indiana). Na verdade a bibliotecária Cindee Goetz foi despedida porque o pequeno roedor escapou ao seu controlo e fugiu para parte incerta na biblioteca. Na sequência a administração teve de arranjar armadilhas para capturar o bibliófilo peludo, uma vez que o mesmo poderia danificar as instalações bem como a colecção. Insatisfeita com tamanha crueldade Cindee, a bibliotecária, resolveu por sua conta e risco remover todas as armadilhas que foram colocadas para capturar o animal. A administração, por seu turno, não achou piada à brincadeira e resolveu também, no princípio, suspender a bibliotecária de todo e qualquer contacto com o público, uma vez que não se sabia o que poderia dizer às pessoas com a sua grande boca… e por fim lá acharam que uma bibliotecária que não pode falar com as pessoas não serve para grande coisa pelo que foi despedida…
Depois de ter trazido um esquilo doméstico para o trabalho, o insólito aconteceu (se bem que trazer um esquilo para a biblioteca já é por si suficientemente insólito) em Michigan City (Indiana). Na verdade a bibliotecária Cindee Goetz foi despedida porque o pequeno roedor escapou ao seu controlo e fugiu para parte incerta na biblioteca. Na sequência a administração teve de arranjar armadilhas para capturar o bibliófilo peludo, uma vez que o mesmo poderia danificar as instalações bem como a colecção. Insatisfeita com tamanha crueldade Cindee, a bibliotecária, resolveu por sua conta e risco remover todas as armadilhas que foram colocadas para capturar o animal. A administração, por seu turno, não achou piada à brincadeira e resolveu também, no princípio, suspender a bibliotecária de todo e qualquer contacto com o público, uma vez que não se sabia o que poderia dizer às pessoas com a sua grande boca… e por fim lá acharam que uma bibliotecária que não pode falar com as pessoas não serve para grande coisa pelo que foi despedida…
Fonte: http://www.squirreloverlords.com/2006/11/19/nutjob-greenie-librarian-fired-over-squirrel-trap/ depois de ter passado por http://lisdb.blogspot.com/.
segunda-feira, dezembro 04, 2006
O google da banda desenhada
Nasceu o Co-omics o motor de busca especializado em banda desenhada. O parto ocorreu em Espanha e por detrás da sua concepção esteve a equipa @bsysnet e o incansável Castillo Vidal, que a partir do Google Co-op criou este serviço de busca totalmente pioneiro. A principal característica do Google Co-op é a de permitir (a quem parametriza o motor de busca) escolher um conjunto de páginas onde queremos que as pesquisas sejam lançadas. No caso foram seleccionados um conjunto de recursos espanhóis e portugueses dedicados à BD, sobre os quais se pode lançar uma pesquisa conjunta. Os sites portugueses da Bedeteca de Lisboa, designadamente as fichas BDboom e o site www.bdesenhada.com estão entre os eleitos.
O Instituto para o Futuro do Livro
Criado em 2004 tem por missão acompanhar e participar de uma forma activa no desenvolvimento do futuro formato e função do livro na era digital. Partindo do princípio que o livro impresso é o peso pesado do pensamento intelectual na história da humanidade, o instituto olha para o livro impresso («the dead tree media») e investiga o modo como a essa forma se tem adaptado e irá adapatr ao ecrã digital. Como é que essa adaptação modifica o processo de captação da informação, senão mesmo a própria informação e que novas oportunidades surgem a partir desta transformação. Será que o formato do livro [e revista] impresso com duas bandas unidas por uma lombada será imposto como formato standard do livro electrónico? São questões como esta que o instituto se propõe investigar, enquanto nós aguardamos com serenidade.