terça-feira, outubro 31, 2006

A Casa da Sabedoria = Bayt al-Hikma

Grande biblioteca e centro de traduções em Bagdad durante a dinastia Abássida. Foi considerado o mais importante centro intelectual durante a época de ouro do islão. Em 750 os Abássidas destronaram os Omíadas na liderança do império islâmico (da Índia ao Al Andaluz) e fizeram de Bagdad a sua capital. Mais tarde seria a cidade das mil e uma noites. Na Casa da Sabedoria preservaram-se e traduziram-se obras da antiga civilização persa (em sírio e grego) nomeadamente livros de astronomia, matemática, agricultura, medicina e filosofia. Entre muitos sábios que por lá passaram, destacamos Al-Khwarizmi, o inventor da álgebra, cujo nome deu origem à palavra algoritmo. Lendo tratados de matemática hindus Al-Khwarizmi adoptou o seu sistema numérico e criou o sistema que usamos hoje. O conceito mais revolucionário que desenvolveu foi o conceito de zero. Note-se que este conceito inovador foi ridicularizado e foi mesmo motivo de escárnio pelo clero cristão que ainda usava o sistema de numeração romano. «Zero??? Ah, Ah, Ah… São civilizacionalmente inferiores! Só falta transformarem-se em terroristas…» dizia-se na altura no mundo cristão.

Bom! De qualquer forma a Casa da Sabedoria durou até ao século XIII da era cristã. Em 1258 foi destruída durante as invasões mongóis. Disseram então que as águas do Tigre ficaram negras em resultado da enorme quantidade de tinta oriunda dos livros atirados ao rio. Da carnificina bibliográfica sobreviveram alguns milhares de documentos que acabaram também sendo destruídos por bombas inteligentes lançadas durante a segunda invasão mongolóide liderada pelos Estados Unidos no início do séc. XXI.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Clínicas espanholas promovem a língua portugueza em Espanha


Afonso Pergaminho, presidente do Instituto Português do Incunábulo, Códice e da Língua Portugueza acabou de distinguir a Clínica de Los Arcos e a Clínica Guadiana com a Gran Cruz da Nossa Língua. «É com imenso prazer e enorme satisfação que vos atribuo esta nobre distinção». Disse Pergaminho ao corpo clínico espanhol presente na cerimónia. «Quando estamos secularmente habituados a que nos perguntem se somos italianos, mal nos sentamos no primeiro café depois de passar a fronteira, inclusivé na Galiza, vós sois um oásis. Não só entendem perfeitamente a língua de Camões como até a utilizam frequentemente para o vosso dia-dia no trabalho. Bem hajam e muito obrigado!»

As bibliotecas e o referendo


Ilustração: Anke Feuchtenberger

Batalha, 20 de Outubro, 18h19m
Sara, técnica superior na Biblioteca Ptolomaica da Cova da Iria, entra na sala e comunica ao marido. «O teste deu positivo. Confirma-se». Os putos, uma menina de 5 anos e um rapaz de um ano, brincam indiferentes no chão. Pedro sentado no sofá desvia o olhar d’ «A bola» e pergunta. «E agora?...»

Torres Vedras, 20 de Outubro, 18h25m
Ana Cristina, estudante no 10º ano, consulta a Internet na biblioteca pública local. Vira-se para Paula, sua amiga, e sussurra nervosamente: «O site woman on waves diz quais são os comprimidos a tomar». «Acho que não existem em Portugal. Pode-se mandar vir pela Internet, mas demoram 15 dias… Tenho medo! E se a coisa corre mal e tenho de ir para o hospital de urgência?...»

Castelo Branco, 20 de Outubro, 18h32m
«É melhor ir a Espanha?... Diz Alberto, pai de Clara que frequenta o 2º curso de técnicos profissionais de bibliotecas e documentação. Maria do Céu, a mãe, já tomou 3 comprimidos e não sabe se está assim por causa da gravidez ou por causa do aborto.

Grândola, 20 de Outubro, 18h45m
«Buenas tardes! Es de la clínica de Badajoz?» Pergunta Catarina, directora do Centro de Documentação e Estudos Avançados de Vila Morena, no seu castelhano fluente. «Es que estoy embarazada de seis semanas y...»
«É sim! Boa tarde? Respondem do outro lado da linha num português perfeito. Para o tratamento da gravidez são 500 euros com anestesia geral, 350 com anestesia local e 150 com comprimidos. Este último não recomendamos, pois se correr mal terá de regressar para um eventual internamento. Podemos marcar para amanhã às 10h de Portugal?...»

Lisboa, Gare do Oriente, 21 de Outubro às 6h50.
Adriana, brasileira do Ceará e trabalhadora na “LimpoServiço” que, todas as manhãs, limpa e desinfecta a Grande Biblioteca do Conhecimento Virtual Lusitano, entra no autocarro que a conduzirá à capital da Extremadura.


Não existem dados fiáveis, mas parece que em 2005 cerca de 20.000 mulheres abortaram clandestinamente em Portugal ou foram fazê-lo a Espanha. Não é normal, não é justo, não é humano que a interrupção voluntária da gravidez seja um crime.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Personagens de banda desenhada com chapéu


Que perguntas fantásticas (não estou a ser irónico acho que são mesmo fantásticas) são dirigidas diariamente ao serviço de referência da Bedeteca e cujo único mecanismo viável de recuperação da informação é a nossa memória (qual RAM, qual ROM, qual base de dados?...).
Esta foi-me feita hoje ao telefone e só me lembrei destes personagens: Achille Talon, Adèle Blanc-Sec, Astérix [capacete], Blueberry, Capitão Hadock, Corto Maltese, Donald, Dupond e Dupont, Iznogoud [turbante], Jack Palmer, Jérôme Moucherot, Lucky Luke, Luís Má Sorte, Mandrake, Quim e Manecas, Professor Girasol, Spirou, Tex, Tio Patinhas, Yakari [pena], Zorro… e… passo…

Se entretanto se lembrarem de mais alguns avisem-me por favor.

P.s.: Creio que se o primeiro-ministro sonhar que existe um gajo pago pelos contribuintes para satisfazer este tipo de necessidades de informação vou direitinho para o quadro de excedentes.
Um abraço e obrigadinho,

terça-feira, outubro 24, 2006

Saiba como a “Biblioteca de Alexandria” acabou em Sapataria

Gravura da Antiga Biblioteca de Alexandria

Não se sabe ao certo qual foi o destino da Grande Biblioteca de Alexandria. Existem relatos de vários incêndios. O mais célebre dos quais é o da frota de Júlio César ao largo de Alexandria. Há quem defenda também que foi destruída pelos muçulmanos depois da conquista árabe em 641 d.C., quando o califa Omar pronunciou a célebre frase sobre o destino dos livros: «Destruam-nos! Pois se estão de acordo com o Livro de Deus não são necessários. Se estão em desacordo são ímpios e indesejáveis». De qualquer forma os historiadores são unânimes em considerar que a Biblioteca não terá sido destruída de uma só vez e que sobreviveu ao reinado de Omar. Acredita-se também que uma grande parte dos seus livros e rolos de papiro terão sido ao longo dos tempos transferidos para outras bibliotecas.

Uma dessas bibliotecas foi, ao que parece, a “Casa da Aprendizagem” no Cairo. Assim, quando a dinastia Fatimida sucedeu à dinastia Omar a capital do reino foi transferida de Alexandria para o Cairo. Aí o califa al-Aziz (lindo nome para um catálogo alfabético!) fundou uma enorme biblioteca a “Casa da Aprendizagem” que continha cerca de 600.000 volumes, sendo que 2.400 eram exemplares iluminados do Corão.

A biblioteca foi crescendo sucessivamente e no ano de 1004 já possuía cerca de 1,5 milhões de livros. Contudo no fatídico ano de 1068 o vizir Abu al-Faraj, com algumas dificuldades de tesouraria e precisando de dinheiro com urgência para combater os Turcos (na altura eram Bizantinos oriundos do império romano do oriente) que se aproximavam, não encontrou outra solução senão vender um carregamento livros em 25 camelos (pela módica quantia de 100 dinares) para pagar aos seus bravos soldados. Os soldados do vizir lá receberam o seu dinheirinho e morreram felizes (com a bolsa cheia), pois na verdade, o exército Turco acabou por vencer a contenda na mesma.

Os Turcos, por seu turno, quando viram a biblioteca ficaram sem saber muito bem o que fazer a tanto calhamaço. Foi então que resolveram dar início a uma das primeiras grandes acções de reconversão económica. Rasgaram as encadernações em couro (mais de um milhão) e separaram-nas do respectivo recheio em papel. As encadernações foram manualmente recicladas e transformaram-se em sapatos e botas. «Há que reconhecer que são bem mais úteis do que livros, especialmente quando chove», disse então o general turco ao seu exército. E quanto ao papel? Bom, na altura não havia caixotes de reciclagem, pelo que tiveram de enterrar as imensas toneladas de papel numa vala comum. Como a quantidade era imensa essa vala transformou-se num monte, o qual durante sucessivas gerações ficou conhecido como o «Monte dos Livros».
Não se sabe contudo qual foi o destino dos bibliotecários. Embora o embalsamento para servirem de bibelots seja uma hipótese a considerar juntamente com a tradicional sodomia e espancamento até à morte.

Boa noite e até amanhã,

segunda-feira, outubro 23, 2006

Deficits orçamentais e redução da despesa

Depois de ter edificado a Grande Muralha da China, em 220 a.C., e outras imponentes obras públicas o imperador Qin Chi Huang (o primeiro imperador da dinastia Qin) viu-se a braços com um irresolúvel deficit orçamental. «Que faço agora?...» perguntou o temível imperador ao não menos temível Lu Jia, o seu ministro chefe. «É simples majestade», respondeu Lu. «Basta reduzir as despesas com funcionários e serviços do reino». E assim foi. Depois do sábio conselho ministerial o imperador mandou encerrar todas as escolas, queimar todos os livros e bibliotecas e ENTERRAR VIVOS todos os professores, bibliotecários e arquivistas do reino. Para além de reduzir as despesas Qin aproveitou também para apagar da memória a vida e obra dos seus antepassados, passando a ser ele o único imperador a representar o passado e o presente da China imperial.

Dois mil duzentos e vinte seis anos depois deste curioso episódio, o Governo de Portugal (um país insignificante na outra extremidade da terra) após a edificação de 10 estádios de futebol (sempre vazios) prepara-se para encerrar o Museu de Arte Popular. Está aqui uma petição.
Um abraço,

sexta-feira, outubro 20, 2006

Serviço de aquisições

Fixe! Que conjugação perfeita. É 6ª feira. O fim de semana será de chuva e acabou de me chegar via amazon.com o livro «Library : an unquiet history» de Matthew Battles, um bibliotecário à moda antiga que trata melhor os livros que os leitores. Em breve e em desrespeito total pelo direito de autor algumas frases e parágrafos serão despudoradamente roubadas ao livro e colocadas neste miserável blogue.

Bom fim-de-semana,

É hoje…


Neste dia cinzento e de chuva «que inaugura o 17º Festival Internacional de BD da Amadora (FIBDA) e que terminará dia 5 de Novembro. Mais uma vez a localização do núcleo central do Festival mudou de sítio desta vez para o Fórum Luís de Camões (Brandoa).O tema central desta edição é "17 Graus Periféricos e o Resto do Mundo" e reflecte-se nas mostras de bd da América Latina, África “Negra”, Mundo Árabe e Leste Europeu, entre outras. Realce também para a mostra de Filipe Abranches (autor da imagem do evento). Ainda no que se refere a autores nacionais, o Festival apresenta uma exposição de 17 Autores Portugueses Contemporâneos e uma mostra de trabalhos de desenhadores nacionais que trabalham para o mercado norte-americano, entre outras.Poderão encontrar mais exposições pelo resto do concelho: Galeria Municipal Artur Bual, Casa Roque Gameiro, Recreios da Amadora, Estação de Metro Amadora-Este e Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem.
Os autores presentes nesta edição são: Maurício de Souza (criador da Turma da Mónica), Frank Giroud, Lucien Rollin, Jean-Claude Denis (regressa a Portugal depois do Salão Lisboa 2001), Alessandro Barbucci, Frédéric Boilet, Aurélia Aurita, Étienne Davoudeau, David Rubin, Ángel de La Calle, Tomaz Lavric, Sérgio Salma, Aleksandar Zograf (na sua terceira visita após o Salão Lisboa 2003 e a edição anterior do FIBDA), Lailson Cavalcanti, Sixto Valência, Eduardo del Rio, Roberto Goiriz, Clément Obrerie, Grof Balazs, Lorenzo Gomez, JP Stassen, Yvan Alagbé, Eric Lambé e Sid Ali Meloah».
Não faltem, pois dos grandes salões e festivais que existiam ainda há poucos anos (Lisboa, Porto e Amadora) este é o último sobrevivente.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Serviço de aquisições

O livro é infantil, mas a leitura é também delirante para um adulto. O autor é Lewis Trondheim e as personagens são a família Trondheim. São «as aventuras extraordinárias de uma família quase normal». O papá (Lewis), a mamã e os filhos (Pierre e Jeanne, um menino e uma menina com menos de seis anos). Como em todas as famílias os pais trabalham e os filhos brincam, choram, fazem asneiras e vêm desenhos animados. Só que o trabalho dos pais é desenhar. São ilustradores e autores de BD o que é óptimo para os filhos pois desenhar também faz parte do seu universo de brincadeiras. Como os pais são autores de BD possuem um pó mágico que dá vida aos seus desenhos. Pó esse que está interdito ao uso às crianças. Acontece que um dia o Pierre dá um encontrão no armário onde está escondido o dito pó e este cai sobre um dos seus desenhos. É aí que começam os problemas uma vez que o pó cai precisamente sobre o desenho de um tenebroso monstro chamado “Oko”. A partir daí Oko vai aterrorizar a família que terá de arranjar uma solução engenhosa para se livrar dele… e mais não conto.

TRONDHEIM, Lewis – Monstrueux bazar. Rennes : Delcourt, 1999. ISBN: 2-84055-366-X

Requisitei-o à Bedeteca para ler ao Filipe, que teve direito a uma tradução simultânea com pausas exasperantes (em que perguntava ENTÃO?... Lês ou não?...) para eu pensar…

Serviço de aquisições

A Drawn & Quarterly é, seguramente, a mais prestigiada editora canadiana de banda desenhada ou de novelas gráficas se preferirem. Publicou em tempos uma antologia de excelente qualidade em grande formato e ricamente ilustrada, estou a escrever precisamente sobre a Drawn & quarterly anthology, cujo último volume (o 5º) foi publicado em 2003. Na Bedeteca requisitei o 3º vol. (do longínquo ano 2000) e deliciei-me. Apesar da selecção dos autores e das histórias (feita por Chris Oliveros) ser irrepreensível, não deixo de recomendar a leitura do magnífico solteirão Monsieur Jean (Dupuy e Berberian); a adaptação parcial do Crime e castigo em «Dostoyevsky comics» (R. Sikoriak) e a reimpressão do oldie «Gasoline alley», uma página dominical que saiu nos anos 20, 30 e 40 no Chicago Tribune da autoria de Frank King.

Muito, muito bom

terça-feira, outubro 17, 2006

Não percam


No Website da Conferência já está disponível informação inicial e provisória sobre o programa e os oradores da Conferência. Está desde já confirmada a participação de alguns dos mais proeminentes protagonistas do movimento e das iniciativas de Acesso Livre (ver lista de oradores confirmados).

Está também já disponível o formulário de inscrição, bem como indicações sobre o alojamento. Durante as próximas semanas serão divulgadas mais informações, como o programa definitivo, através do Website (http://www.sdum.uminho.pt/confOA/).

Como o número de participantes que serão aceites está limitado à capacidade da sala, e para aproveitar os preços especiais oferecidos poralguns hotéis de Braga para os participantes da Conferência, aconselha-se que efectuem a inscrição e a reserva de alojamento (caso necessário) tão depressa quanto possível».

Serviço de aquisições

De vez em quando acredito que não vivemos num país do terceiro mundo. Na verdade o mercado de publicações de banda desenhada em Portugal é o meu barómetro para o desenvolvimento económico e social e quando uma bd desta qualidade é dada à estampa penso que finalmente demos o salto pois estamos a publicar material com a mesma qualidade de Espanha, Itália, França, Bélgica, EUA, Canadá ou Japão. O problema é que vou ter certamente de esperar mais uns anos até ser publicada outra bd deste nível e não apenas uns míseros dias ou semanas como os meus irmãos mais desenvolvidos.
Sobre o livro, acho que desde «A pior banda do mundo» do José Carlos Fernandes (2002-2005) não lia uma obra de autores portugueses tão boa. O João Paulo Cotrim está ao melhor nível e o Miguel Rocha fantástico. A obra sem ser uma biografia do ditador português é, no entanto, algo parecido com uma biografia satirizada. Narrada, em parte, pelo próprio ditador mas obviamente com palavras emprestadas (que eu classificaria como ironia poética) pelo argumentista e pela história. No essencial o livro retrata episódios, imagens, frases, slogans e factos da vida de Oliveira Salazar e de Portugal desde a sua infância até à hora da sua morte. O grafismo da obra é também notável. A sequência narrativa / visual do ditador a cair da cadeira ou a utilização dum postal de propaganda do regime (Deus, Pátria e Família) e fazer dele o primeiro quadradinho de uma sequência que inverte na totalidade os valores do regime são absolutamente geniais.

Uma nota apenas. O prazer retirado da leitura é tanto maior quanto maior for a contextualização do leitor com a história recente de Portugal. De qualquer forma numa escala de 0 a 5 basta estar no nível 1 (aquele em que julgo me encontrar) para gozar o livro plenamente.

Parabéns aos autores.

P.s.: leiam também a crítica em http://lerbd.blogspot.com/
COTRIM, João Paulo ; ROCHA, Miguel - Salazar : agora na hora da sua morte. Mem Martins : Parceria A. M. Pereira, 2006. ISBN: 972-8645-36-08

segunda-feira, outubro 16, 2006

Confusões


Ora onde está a caixa das devoluções?... A caixa das devoluções?... Ah! Ora cá está ela.

Oooops!...


Até amanha e bom trabalho,

Fonte: http://www.laughinglibrarian.com/

sexta-feira, outubro 13, 2006

Bibliotecários em luta

Entre 80 a 100 mil trabalhadores zangados, muito zangados, concentraram-se ontem em Lisboa, para exigir diferentes políticas económicas e sociais. A malta da função pública preocupada com o clima de despedimentos, cortes salariais, aumento das horas de trabalho, idade da reforma e constante quebra de direitos concentrou-se no Terreiro do Paço e partiu em marcha em direcção ao Rossio. Estava muita gente. Mesmo muita gente. Na verdade no momento em que o Carvalho da Silva discursava em frente à Assembleia da República, ainda os trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa se encontravam empancados no Terreiro do Paço e atrás ainda vinham os enfermeiros. Registe-se que no meio da multidão foram avistados diversos bibliotecários, técnicos de bibliotecas e outros OVNIS.
Quanto à concentração e se me permitem, julgo que alguns slogans têm de ser revistos. Estão em franco desuso: e.g. «Direitos conquistados, não são para ser roubados». Por exemplo se a esperança de vida aumentou é justo que a idade da reforma aumente um pouco, a menos que estejamos empenhados em morrer mais cedo.
Por outro lado o discurso de alguns dirigentes sindicais é, também, digno de nota. Recordo-me a propósito dos seguintes exemplos mais edificantes:

- «CAMARADAS!... SE NOS CORTAM MAIS NOS SALÁRIOS E NOS DIREITOS / AUMENTA A POBREZA E AUMENTA A PROSTITUIÇÃO!...»
A prostuição???... Ora aí está um simpático trabalhinho extra (para ajudar a pagar as despesas) que ainda não me tinha ocorrido, confesso.
- «CAMARADAS!!!... A E.D.P. QUER AUMENTAR AS TARIFAS EM 15%. É UM ESCÂNDALO!... QUALQUER DIA NÃO PODEMOS SEQUER PASSAR A FERRO?...»
Slogan réplica da Rita: «Eu quero!... Eu quero!... Poder passar a ferro!...».

Livros recomendados:
ZOLA, Émile, 1840-1902
Germinal / Émile Zola. – Lisboa : Mediasat, 2004. – 383 p.
TARDI, Jacques, 1946-
Le cri du peuple / Jacques Tardi [dessins] ; Jean Vautrin [scenario]. – Bruxelles : Casterman, 2004. – 4 v. : il., banda desenhada.
P.s.: Nota positiva para a Polícia de Segurança Pública. Há quarenta anos carregava com a cavalaria, com os bastões e as baionetas nos manifestantes. Hoje, simpaticamente, carrega nos automobilistas e motociclistas. Uma evolução pela positiva.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Há dias que começam bem

Começando o passeio pelo Beco das Imagens descobri um ilustrador chamado Brian Raszca, que de rasca não tem nada. Perdido no seu site encontrei duas magníficas ilustrações para uma biblioteca. Mais precisamente para o Sistema de Bibliotecas de Washoe County, no Nevada. Descobri então que o Brian é responsável pelo design dos relatórios anuais do referido sistema de bibliotecas. Ora aí está uma Boa Prática desenvolvida em Washoe que, como todas as boas práticas, deveria também ser seguida por outras bibliotecas, nomeadamente pelas lusitanas, até porque graficamente os nossos relatórios se parecem cada vez mais com volumosos ogres vestidos de cinzento, enquanto os nossos bons ilustradores andam, curiosamente, com pouco trabalho. Porque não trocamos então algumas sinergias?...

quarta-feira, outubro 11, 2006

Divisas identificadoras para os funcionários públicos portugueses

Depois de serem unanimemente considerados pela opinião pública nacional e internacional como os GRANDES RESPONSÁVEIS PELO ATRASO ECONÓMICO DE PORTUGAL, o Governo e a Assembleia da República preparam-se para discutir uma proposta de lei que obrigue os funcionários públicos da administração central, regional e autárquica a utilizar uma divisa no ombro da lapela, designadamente uma estrela de seis pontas amarela para os funcionários em geral e um triângulo cor de rosa para os professores, bibliotecários e museólogos. Estas últimas por serem consideradas actividades meio amaricadas convencionou-se utilizar a antiga divisa atribuída aos homossexuais no III Reich. Segundo fontes oficiais esta é uma das primeiras medidas implementadas pelo governo que visa REDUZIR O PESSOAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, embora não queiram para já dar indicações sobre as próximas medidas a desenvolver...
As mesmas fontes referem ainda que os técnicos superiores, administrativos, auxiliares e contratados não têm nenhuma razão para ficarem preocupados, contudo a utilização destas divisas é obrigatória sob pena de fuzilamento imediato por oficiais da GNR.

Serviço de aquisições

Já o fiz no ano passado e volto a recomendar este magnífico livro. Não é um guia e sobretudo não vos aconselho a levar convosco para a Coreia do Norte. É um livro de viagens em BD que relata a estada de Gui Delisle (o autor) naquele paraíso socialista. É um livro de viagens com muito humor. Tenham mesmo algum cuidado ao virar as páginas, pois a sátira é muito forte. A pág. 73, por exemplo, contém uma caricatura tão genial do momento da concepção do Grande Líder que pode provocar um aneurisma às pessoas que riem com mais facilidade. P.s. Podem requisitá-lo também na Bedeteca.

Um abraço e até amanhã camaradas,

As bibliotecas no eixo do mal

«Antes da libertação [comunista] existiam apenas sete bibliotecas na Coreia do Norte. Hoje existe a Grande Sala de Estudo do Povo no centro de Pyongyang, bem como o razoavelmente organizado Sistema de Bibliotecas do Estado estruturado em três níveis: provincial, urbano e rural. Em 1942 o número de bibliotecas cresceu de 102 para 1253 salas de leitura. Hoje as bibliotecas e salas de leitura ultrapassam o número de 15,000. Existem em todos os distritos bibliotecas regionais e bibliotecas para estudantes e alunos. Salas de leitura de periódicos e livros estão também por todo o lado. Para além das referidas ainda existem bibliotecas para investigação científica, universitárias, bibliotecas de fábrica, de unidades empresariais e agrícolas».

Fonte: http://libr.org/isc/articles/9-exclusion.htmlhttp:/libr.org/isc/articles/9-exclusion.html

Não acredito, contudo, que tenham acesso à Internet. Não acredito que as aquisições sejam livres e isentas de censura. Não acredito que os leitores beneficiem do direito à privacidade. E espero, por último, que não subam à estratosfera com a próxima experiência nuclear do querido líder.

Fotografia:
Grand People's Study House DPRK = Grande Sala de Estudo do Povo
P O Box 200
Pyongyang, Central District
Democratic People's Republic of Korea (North)Tel: +850 2 344066

terça-feira, outubro 10, 2006

O depoimento do Querido Lider

«I did it!... I did it!...
And it's all thanks to the books at my local library»

In: FUTURAMA. The day the earth stood stupid, 7º episídio.

Bom dia

E que tal um pouco mais de audácia para seduzir aqueles que ainda resistem a entrar na biblioteca?...

segunda-feira, outubro 09, 2006

O fim de semana do bibliotecário

Ilustração de João Vaz de Carvalho

Caseiro e sem planos. Trabalhos domésticos, babysitting, indolência televisiva, poucas leituras (à excepção diagonal dos jornais) e uma improvisada saída de carro que acabou na encantadora aldeia de Almoçageme. De resto, sobrou ainda tempo para navegar na net à procura de uma piadinha inútil para alimentar o blogue. Descobri este video da loira na biblioteca, mas não me apeteceu fazer o upload. Contentem-se, portanto, com o link e com o curto parágrafo biográfico.

Saudações anarquistas,

sexta-feira, outubro 06, 2006

Bom fim-de-semana

Ilustração: Richard Câmara

Leitor – O senhor é bibliotecário?
Bibliotecário – Aaaargh não!!! Prefiro mil vezes Pirata no Mar da Informação.

A internet não substitui as bibliotecas : 10 razões [uma de vez em quando]


Ilustração de Fábio Zimbres

6. Ei amigo! Já te esqueceste dos leitores de e-books?...

“A maioria de nós já se esqueceu do que foi dito em tempos sobre o microfilme («vamos reduzir as bibliotecas para o tamanho duma caixa de sapatos») ou quando a televisão educativa foi inventada («no futuro vão ser necessários poucos professores»). Tente obrigar um leitor a utilizar um e-book mais de meia hora. Dores de cabeça e fadiga visual serão provavelmente os melhores resultados que conseguirá. Além disso se tiver de ler mais de duas páginas o leitor irá certamente imprimir o texto…”

Fonte: http://www.ala.org/ala/alonline/selectedarticles/10reasonswhy.htm



Esta razão, sinceramente, não me convence… Fico na mesma. “So what?...”

terça-feira, outubro 03, 2006

Fuga de Guantanamo

Ilustração Peter Kuper

Segundo a ABC News Internacional pela primeira vez vários prisioneiros de Guantanamo conseguiram evadir-se. E conseguiram como? Através da biblioteca. Não! Infelizmente, não cavaram um túnel de ligação entre a Sala de Leitura e a Sierra Maestra. Conseguiram-na, metaforicamente, através da literatura, da filosofia, da história, dos romances policiais e… do Harry Potter. Que Allah seja louvado!... Pois a liberdade também pode ser encontrada em tempo de trevas e mesmo em livros tenebrosos».

Não fosse a literatura, a filosofia, a história ou os romances policiais e juraria que o Harry Potter era uma nova forma de tortura velada.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Ilustração do Peter Kuper


Encontrei, por acaso, esta fantástica ilustração do Peter Kuper sobre a aplicação do U.S. Patriot Act nas bibliotecas americanas.